Aligeirei ao passo ao bater a porta. A descida volante das escadas lembrou-me que não levava mala hoje. Tinha-a deixado no escritório. Hoje podia caminhar e jingar.
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Cá fora o sol esbofeteava o cinzento da Anspach. Experimentei olhar para as pessoas e espiolhar as vidas delas com as histórias que se podem construir à volta da sua presença circunstancial na Boulevard àquela hora. Uma coisa é certa, às 10 já ninguém tem pressa para ir a lado nenhum: Ou estão muito a tempo para não fazer nada ou estão já irremediavelmente atrasadas para o emprego. "Perdido por 100, perdido por 1000" entoavam os nossos pensamentos em coro..
Fui trauteando um irónico singing in the rain enquanto me desviava dos andantes em velocidade cruzeiro como se fossem gotas de água. Ainda pensei chapinhar os sapatos numa poça avermelhada. Depois de olhar segunda vez para o que podia ser tanto uma passata de tomate como uma placenta de cão, preferi saltar-lhe por cima e urgiu, a seguir, uma vontade de dar uma pirueta e ver as abas do casaco levantar sob os cotovelos.
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Congeminei a minha desculpa e entrei no metro.
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"Bof... cheguei atrasado, desculpem lá.
O despertador não tocou e... ainda bem ..."
3 comentários:
eu chego quase sempre 9.00, 9.10...
saio quase sempre 19.00, 19.30...
melhor ainda: não sou pago pra isto...
corre-t nas veias!mas eu já estou curada.autodisciplina e chumbar ás cadeiras das 8 da manhã foram cruciais.
méri.
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