domingo, julho 10, 2005

Mictório

Desde pequeno que sou abatido pelo fascínio de um determinado objecto de loiça. É um objecto que não se encontra em todas as casas de banho mas que também não faz parte do acervo de utensílios para banhos a prestações, como o bidé. Não, não falo desta bacia oblonga, por muito que mereça uma estátua em sua honra de tão ridiculo nome que lhe puseram, um híbrido entre a corruptela francesa e um neologismo yanomami.

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De petiz sempre que ia a uma casa de banho pública que ficava a olhar para aquela bizarra peça de faiança presa à parede à altura da minha cabeça. Só mais tarde vim a perceber que todas as minhas hipóteses estavam erradas. Desde escarrador a sanita para deficientes (e só Deus sabe as horas que passei a inventar um deficiente que ali coubesse melhor que numa vulgar retrete) tudo me empapou a massa cinzenta.
Um dia mais tarde associei-o à sua função e nome. U-RI-NOL, um nome saído de um livro sobre castas de anjos. Há outros nomes mas acabo sempre por preferir este pelo enrolar de língua que tanto prazer me dá. U-RI-NOL.
A seguir foi a fase de estabelecer a nossa relação. A princípio não foi fácil. Eu estava habituado a sanitas, ao conforto das 4 paredes, a fazer ventriloquismo com o piaçaba... De repente dou comigo a ter de repensar a pontaria. Depressa percebo que não é tão árdua tarefa tratar do assunto sem respingar as calças. A habituação mais difícil foi partilhar o momento de intimidade com um desconhecido ao lado que olha orgulhosamente para o seu zé e depois se vira e esboça um sorriso como se fossemos os mais velhos compinchas. Pior mesmo só quando é urinol corrido, normalmente de metal, em que nem sequer há divisórias e a possibilidade de estarmos a roçar cotovelos com o parceiro do lado me faz perder toda a vontade da natureza. Mas, se estivermos sós é uma maravilha. É como fazer contra uma parede pública sem os incómodos problemas de consciência. Pode-se escrever o nome em caligrafria urinária, que fica a escorrer em lettering de filme de terror classe B e com um fumo amoniacal de escrita corrosiva.

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O urinol é agora o meu momento kit-kat, a pausa de introspecção, a batotice de ter um momento para reunir argumentos para a mesa de café. Mas o urinol nunca poderia ser um objecto intelectual se não fosse também recreativo. É para isso que servem as bolinhas de naftalina. Não há prazer maior do que fazer o jogo de as levantar dos buraquinhos e voltar a pôr, tudo no mesmo jacto de xixi. Ainda assim, consegue manter o seu mistério e versatilidade... por exemplo basta vestir-lhe o fundilho com uma rede verde para se tornar num esplêndido cinzeiro.


Posted by Picasa

5 comentários:

Pedro Pedroso disse...

lol
Bom post! Curti aquela frase a negrito!

Anónimo disse...

Pode-se escrever o nome em caligrafria urinária, que fica a escorrer em lettering de filme de terror classe B e com um fumo amoniacal de escrita corrosiva.

clap...clap..clap

Anónimo disse...

Este gajo tem talento...

Anónimo disse...

é o urinól do incognito?

Anónimo disse...

lol..axo ke é!

:)

 
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