Uma habitação embora pobríssima, mas limpa e arranjada, é uma condição imprescindível á consecução da felicidade.
Diz-se dos escritores, com certa propriedade, que – o estilo é do homem.
Da mulher pode dizer-se também própriamente – o lar é a mulher.
Muitas mães de família vivem infelizes, por não possuirem a arte de tornar apetecivel a sua casa. A falta de conforto na habitação póde atribuir-se, em muitos casos, aos desperdícios dos operarios nas tabernas, aos dos modestos empregados publicos ou comerciais nos cafés.
Mas é justo reconhecer que a grande numero de mulheres cabe a responsabilidade nessas dissipações dos maridos. Se eles ao chegarem a casa, cansados da faina diaria, encontrassem um aconchego intimo, aprazivel, uma atmosféra agradavel de conforto, uma ceia bem cosinhada e um rosto sereno e risonho que os indemnisasse da rudêsa do trabalho e das grossarias dos chefes ou patrões, a maioria dêles, correria a refugiar-se no abrigo do lar, em que a paciencia e a coragem se retemperariam.
Mas o quadro que se lhes oferece é infelizmente, salvo raras e honrosas excepções, o contrario disto.
O operario ou empregado, extenuado de fadiga e mal humorado, porque, por uma defeituosa qualidade inerente á nossa raça, o trabalho é considerado não um dever, mas a escravidão forçada, recolhe a casa na disposição de descansar.
Chega. Deparam-se-lhe os filhos sujos e famintos; a mulher lamurienta, carrancuda, desgrenhada ou esfarrapada, a casa em desalinho, os animais domesticos mal tratados. Por toda a parte a miseria e e o desconforto. Um nada bastará para irrita-lo. A mulher que não soube evitar o inconveniente, protesta com mais ou menos justiça. Vencem as razões do mais forte que espesinha, espanca brutalisa,e, revoltado contra tudo e todos, sai desorientado, indo esquecer e espairecer para a taberna ou botequim.
É desolador mas infelizmente bem verdadeiro este quadro.
Uma mulher pobre ou rica, verdadeiramente digna desse nome, prima na boa ordem e conforto da sua casa e preferirá o ter de menos um vestido, ou um adorno de uso pessoal, a faltarem-lhe os objectos uteis ao arranjo e até ao adorno do seu lar.
In A Mulher no Lar – a arte de viver com economia de Emília de Sousa Costa 2ª Edição (aumentada) (oferecido a minha tia-avó em 1928)
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