

FASE ASSIM-ASSIM // breve anedotário das deambulações urbanas de um pequeno-burguês a armar ao alternativo // MANTENHA A MORAL DO ESCRITOR E COMENTE // MESMO ANONIMAMENTE //
No viver intimo com o marido, a mulher precisa de guardar sempre o recato e o pudor cheios de graça que são um de seus maiores encantos. Ela tem de aureolar-se de uma certa poesia, para conservar intacto o prestigio espiritual perdido num convivio descuidado. É necessario regularisar todas as concessões e todas as liberdades, com delicado carinho não isento de firme, mas de maneira a não ferir.
O nosso lar deve ser um jardim. Nêle decorre a parte melhor da nossa existencia, que será tanto melhor, quanto mais solicitamente soubermos cultivar e cuidar todas as flores que o embelezam e o matizam. E como a um jardim, a mulher terá de rodea-lo duma sébe de cautelas, fechar inflexivelmente as suas portas aos que não sabem respeitar a propriedade alheia e podem tentar danifica-lo ou destrui-lo.
Dentro do lar, a mulher é o exemplo personificado da serenidade e da educação, seja qual for a sua categoria social.
Uma mulher em gestos colericos e descompostos é uma das coisas mais horriveis, mais abominaveis que póde imaginar-se.
E aquela que acompanha esses excessos duma linguagem grosseira e obscena, já não é mulher, é uma furia, um ser indefenivel. Embora o homem empregue termos indecentes, á mulher cumpre abster-se de usa-los e proibi-los aos filhos. Os palavrões na bôca duma mulher tornam horrenda a que se tem no conceito de formosa.
Com os vicios dos maridos, desde que sejam incorrigiveis, não transige uma mulher digna.
Um homem que se embriaga, ou joga o sustento da familia, é uma criatura abjecta. Só tem de humano a figura. Perdeu o respeito por si, não merece que os outros o considerem.
O dever da mulher, porém, é empregar todos os meios ao seu alcance, para o libertar dessa degradação moral. Se não póde, cumpre-lhe abandona-lo.
Poucas são as casas, embora modestas, que não tenham uma ou mais janelas.
[...]
Quem tem varios aposentos, vai deixando ventilar uns, enquanto permanece nos outros.
O desmazêlo, o desleixo que se apoderam da mulher da classe operaria ou agricultora, depois que casa, são, sem duvida, uma das mais poderosas razões da sua infelicidade.
O tempo, que a maior parte délas consome na bisbilhotice com as visinhas ou a palrar de coisas sem interesse algum, aplicado a melhorar com o seu esforço as condições de vida e o conforto e comodidades da familia, produziria verdadeiros milagres.
A mulher do operario consciente deve receber o marido, á chegada do trabalho, com a fisionomia calma e sorridente, não havendo grave motivo a impedir-lho. Não o fazer participar das questões das visinhas – das quais não poucas veses se originam conflitos sangrentos – nem das suas arrelias com os filhos. Os pequenos deitados. Agua numa bacia para êle se lavar, sem necessidade de a pedir. Um casaco, embora remendado, mas limpo, para se libertar da poeira da rua, ou da oficina. Se tem animais domesticos, ja tratados e recolhidos. A ceia feita; os candieiros temperados e limpos. Na mesa uma toalha bem lavada. Umas flôres, mesmo numa jarrinha de barro, darão uma nota delicada de frescura e elegancia á mêsa mais desprovida de iguarias.
A comida, embora pobrissima, apetitosa.
Se o marido gosta de lêr, apenas acabar a ceia, deixá-lo á vontade, não o perturbar. Pedir-lhe até para lêr alto qualquer coisa que mais a interesse. Chamá-lo, por todos os modos á intimidade da vida de familia. Criar-lhe cada dia um gosto novo, por coisas saudaveis e dignas que o afastem dos maus companheiros, das sugestoes criminosas, da taberna e do jogo.
Uma habitação embora pobríssima, mas limpa e arranjada, é uma condição imprescindível á consecução da felicidade.
Diz-se dos escritores, com certa propriedade, que – o estilo é do homem.
Da mulher pode dizer-se também própriamente – o lar é a mulher.
Muitas mães de família vivem infelizes, por não possuirem a arte de tornar apetecivel a sua casa. A falta de conforto na habitação póde atribuir-se, em muitos casos, aos desperdícios dos operarios nas tabernas, aos dos modestos empregados publicos ou comerciais nos cafés.
Mas é justo reconhecer que a grande numero de mulheres cabe a responsabilidade nessas dissipações dos maridos. Se eles ao chegarem a casa, cansados da faina diaria, encontrassem um aconchego intimo, aprazivel, uma atmosféra agradavel de conforto, uma ceia bem cosinhada e um rosto sereno e risonho que os indemnisasse da rudêsa do trabalho e das grossarias dos chefes ou patrões, a maioria dêles, correria a refugiar-se no abrigo do lar, em que a paciencia e a coragem se retemperariam.
Mas o quadro que se lhes oferece é infelizmente, salvo raras e honrosas excepções, o contrario disto.
O operario ou empregado, extenuado de fadiga e mal humorado, porque, por uma defeituosa qualidade inerente á nossa raça, o trabalho é considerado não um dever, mas a escravidão forçada, recolhe a casa na disposição de descansar.
Chega. Deparam-se-lhe os filhos sujos e famintos; a mulher lamurienta, carrancuda, desgrenhada ou esfarrapada, a casa em desalinho, os animais domesticos mal tratados. Por toda a parte a miseria e e o desconforto. Um nada bastará para irrita-lo. A mulher que não soube evitar o inconveniente, protesta com mais ou menos justiça. Vencem as razões do mais forte que espesinha, espanca brutalisa,e, revoltado contra tudo e todos, sai desorientado, indo esquecer e espairecer para a taberna ou botequim.
É desolador mas infelizmente bem verdadeiro este quadro.
Uma mulher pobre ou rica, verdadeiramente digna desse nome, prima na boa ordem e conforto da sua casa e preferirá o ter de menos um vestido, ou um adorno de uso pessoal, a faltarem-lhe os objectos uteis ao arranjo e até ao adorno do seu lar.
In A Mulher no Lar – a arte de viver com economia de Emília de Sousa Costa 2ª Edição (aumentada) (oferecido a minha tia-avó em 1928)
É preciso agir
é preciso foder
isto é etimologicamente
cavar
na cidade
é por vezes
tão difícil foder
como cavar
mas mando quinze tampas
de iogurte Longa Vida
natural
para o Apartado 4450
e plantam-me
uma alfarrobeira
na arrábida
In Sete rios entre campos de Adília Lopes
Escrevi
Porque não
Te perdi
A escrever
escrevo-me
e escrevo-te
Escrevo menos
para mim
do que para ti
Os meus versos
vão dar à tua casa
(eu não quero voltar
para a casa dos meus pais)
Mas vêm aí os pardais
In Sete rios entre campos de Adília Lopes
A porta da casa de Eneias, em Viena
Cartas são como anéis
sem dedos
são cruéis
gosto muito
mas não me chega
A porta que se fecha
com estrondo
e me parte o nariz
deixa-me antiga
como Cleópatra
e a Esfinge
A dor falsa
cheira-me a valsa
é preciso pôr salsa
e na primeira balsa
volto para casa
do meu pai
sem um ai
estancada a hemorragia
torno-me pia
Ai do que não sabe
desentupir uma pia
porque nada sabe
da utopia
Não há fome
que não dê em fartura
com açúcar
e canela
abençoadas descobertas
que tornam as crianças espertas
perdeu-se o pai e a mãe e o império
o Eden passou de cinema a hotel
porque não se faz do Bugio um motel?
para rezar
não é preciso falta
de ar
Dido no Inferno
é preciso ter boas maneiras
em toda a parte
especialmente
em questões de Arte
In Sete rios entre campos de Adília Lopes
Gosto da cidade
e da publicidade
Gosto do campo
e do Anto
Gosto do mar
e do lar
Gosto do ar
e do radar
Gosto do céu
e do chapéu
Gosto da praia
e da saia
Gosto de ti
e de ti
In Sete rios entre campos de Adília Lopes
Desde pequeno que sou abatido pelo fascínio de um determinado objecto de loiça. É um objecto que não se encontra em todas as casas de banho mas que também não faz parte do acervo de utensílios para banhos a prestações, como o bidé. Não, não falo desta bacia oblonga, por muito que mereça uma estátua em sua honra de tão ridiculo nome que lhe puseram, um híbrido entre a corruptela francesa e um neologismo yanomami.
De petiz sempre que ia a uma casa de banho pública que ficava a olhar para aquela bizarra peça de faiança presa à parede à altura da minha cabeça. Só mais tarde vim a perceber que todas as minhas hipóteses estavam erradas. Desde escarrador a sanita para deficientes (e só Deus sabe as horas que passei a inventar um deficiente que ali coubesse melhor que numa vulgar retrete) tudo me empapou a massa cinzenta.
Um dia mais tarde associei-o à sua função e nome. U-RI-NOL, um nome saído de um livro sobre castas de anjos. Há outros nomes mas acabo sempre por preferir este pelo enrolar de língua que tanto prazer me dá. U-RI-NOL.
A seguir foi a fase de estabelecer a nossa relação. A princípio não foi fácil. Eu estava habituado a sanitas, ao conforto das 4 paredes, a fazer ventriloquismo com o piaçaba... De repente dou comigo a ter de repensar a pontaria. Depressa percebo que não é tão árdua tarefa tratar do assunto sem respingar as calças. A habituação mais difícil foi partilhar o momento de intimidade com um desconhecido ao lado que olha orgulhosamente para o seu zé e depois se vira e esboça um sorriso como se fossemos os mais velhos compinchas. Pior mesmo só quando é urinol corrido, normalmente de metal, em que nem sequer há divisórias e a possibilidade de estarmos a roçar cotovelos com o parceiro do lado me faz perder toda a vontade da natureza. Mas, se estivermos sós é uma maravilha. É como fazer contra uma parede pública sem os incómodos problemas de consciência. Pode-se escrever o nome em caligrafria urinária, que fica a escorrer em lettering de filme de terror classe B e com um fumo amoniacal de escrita corrosiva.
O urinol é agora o meu momento kit-kat, a pausa de introspecção, a batotice de ter um momento para reunir argumentos para a mesa de café. Mas o urinol nunca poderia ser um objecto intelectual se não fosse também recreativo. É para isso que servem as bolinhas de naftalina. Não há prazer maior do que fazer o jogo de as levantar dos buraquinhos e voltar a pôr, tudo no mesmo jacto de xixi. Ainda assim, consegue manter o seu mistério e versatilidade... por exemplo basta vestir-lhe o fundilho com uma rede verde para se tornar num esplêndido cinzeiro.
Resposta ao repto lançado pelo sô skizo no sofá laranja sentado.
b] último disco que comprei
Porque comprar música não é o mesmo que adquiri-la, os últimos álbuns comprados foram Quarks ::: Zuhause e a compilação Monika Force, tudo da editora Monika Enterprise.
c] música que estou a escutar agora
Porque estava a responder à pergunta anterior decidi que era hora da ruralidade inata, dos campos verdes ralinhos com ovelhas rapadas a ruminar.
Oiço pois Chica + the Folder ::: I'll come running.
d] cinco discos que escuto frequentemente ou que têm algum significado para mim
01. Fake French [ El Guapo]
porque todo ele é uma ode aos dias de hoje, ao nosso imaginário projectado num futuro de pendor bélico-tecnicista e pelas frases:
02. O monstro precisa de amigos [ Ornatos Violeta ]
porque bebem o espírito do porto urbano e vomitam-no em catadupa.
porque me faz lembrar os tempos em q o porto era meu também.
porque sim.
03. Colette n.º 6 [VA]
porque são reminiscências do ecletismo de brochelas sem lhe sacrificar o gosto.
04. Train leaves at eight [The Walkabouts]
porque é feito de um dos meus planetas favoritos - Sotúrnia - e tem dos vários países uma canção refeita à imagem do grupo. De onde eu nasci aproveitaram José Mário Branco ::: Sopram ventos adversos (Hard winds blowin').
05. Who will cut our hair when we're gone [The Unicorns]
porque foi amor à primeira vista e ainda hoje estou para perceber porquê.
e] lanço o repto a outros bloggers
Peter Panic
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