sábado, janeiro 29, 2005

Dom Cócó nas coronárias da Europa (II) ou O re-re-re-encontro

A estação vermelho-ferrugem era em tijolo à antiga. Anunciava-se o final da viagem, o estiramento das pernas como recompensa e os bocejos que são os hurras dos viajantes.
.
A chegada a Detrasdoburgo veio mesmo na linha de encontro ao que tinha pensado. Andando à sua frente um jovem desportivo, descomprometido foi incentivado a por as mãos na parede para facilitar a revista pelos agentes da Duane. Tratava-se de uma polícia secreta que até tinha cães por agentes o que dizia muito sobre os critérios de destreza mental exigidos para lhe pertencer.
.
O reencontro com o seu antigo colega de Altos-Estudos Aplicados à Ciência do Medicamento foi caloroso. Até se deitarem andaram num não parar de perguntas, respostas, actualizações de informação, anedotas e até um ou outro peido. Coisas de quem não se via há muito tempo. O jeito de falar do seu colega era nervoso e ansioso obrigando-o a paragens de língua nalgumas sílabas, o que tornava as conversas arrastadas, mas o prazer de adivinhar o final da frase era um desafio prazenteiro. De simpatia desmedida, hospedou-os a ele e ao colega especialista francês, que não chegaria senão mais junto da meia noite, na sua casa de decoração minimal desafiada pelo tempo (pelo tempo que é preciso dispender para andar à procura de mobília e equipamentos).
.
O colega francês era um especialista nas matérias de relações internacionais dentro do enquadramento Europeu sobretudo as que não tinham nada a ver com medicamentos. Claro que a sageza única da língua Franca permitia-lhe também um domínio total das discussões nas reuniões, não fosse Dom Cócó ficar com a inteligibilidade presa nalgum vocábulo regional.
.
Bem dormidos apressaram o passo nos jardins nevados que mediavam a casa do Concílio da Europa. A segurança apertada na entrada, comparada à de um aeroporto internacional impunha ali logo o respeito pela burocracia do local. Era o jogo dos meninos crescidos. Dom Cócó estava como peixe na água. Não por achar que ali pertencesse, mas por estar perfeitamente descontraído uma vez que nada era esperado dele. Podia dedicar-se ao que mais gostava de fazer – observar.

Sem comentários:

 
Free counter and web stats