Entra-se por uma fresta na lateral do aparelho lumbricóide sem se perceber bem se ele inspira ou expira por ali. Ao carregar no filete verde que medeia as frestas sempre duas a duas, abrem-se como guelras e bafejam-nos os cabelos com um calor húmido levemente exalando a coisas velhas.
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No interior do eléctrico decorre um estudo antropológico secreto. No caminho para qualquer lado estes números aleatórios e raramente repetidos condoem-se a ver a chuva a riscar as janelas por fora. A manhã ainda não sorriu sobre o toldo cinzento e as pessoas agarram bem os agasalhos onde o vento forte se esfrega. Cá dentro há calor. Quentinho.
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Há muita gente sozinha. Acho que só duas pessoas conversam mas é numa algaraviada tal que não faço sequer esforço para perceber. Tento distrair-me a ver a sinalética dos trajectos, toda planificada e não cruzada, tudo em linhas ortogonais garridas para fácil identificação.
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A luz amarela quase solidifica o ar denso à nossa volta. Quase se pode mastigar esta solidão de pessoas juntas. Todos olham com um suspiro ou um bocejo os primeiros vestígios de raios de sol, uma leve linha clara que vai contornando ao de leve os telhados. Debaixo deste céu de chumbo ninguém sabe o que é a felicidade.
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Deixo-me embalar pela cadência regular das ligações das calhas. Vou deixando cair as pestanas e cabeceando a atmosfera.
No caminho para qualquer lado, só eu não vou para lado nenhum.
1 comentário:
Curti muito a viagem pelos transportes públicos de Bruxelas! Espero que o Blog continue a passear ai pelas cidades Europeias...
Abraço
AS
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