Teresa Tosta Macedo numa mistificação alternativa.
Chamemos-lhe Abstracto #1.
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FASE ASSIM-ASSIM // breve anedotário das deambulações urbanas de um pequeno-burguês a armar ao alternativo // MANTENHA A MORAL DO ESCRITOR E COMENTE // MESMO ANONIMAMENTE //
Dou you know the difference between a Portuguese woman and a Yeti?
One stinks and has long hair while the other one lives in the Himalaias.
Do you know why Portuguese men fart after having sex?
To put the ass hair back the right way.
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Entra-se por uma fresta na lateral do aparelho lumbricóide sem se perceber bem se ele inspira ou expira por ali. Ao carregar no filete verde que medeia as frestas sempre duas a duas, abrem-se como guelras e bafejam-nos os cabelos com um calor húmido levemente exalando a coisas velhas.
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No interior do eléctrico decorre um estudo antropológico secreto. No caminho para qualquer lado estes números aleatórios e raramente repetidos condoem-se a ver a chuva a riscar as janelas por fora. A manhã ainda não sorriu sobre o toldo cinzento e as pessoas agarram bem os agasalhos onde o vento forte se esfrega. Cá dentro há calor. Quentinho.
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Há muita gente sozinha. Acho que só duas pessoas conversam mas é numa algaraviada tal que não faço sequer esforço para perceber. Tento distrair-me a ver a sinalética dos trajectos, toda planificada e não cruzada, tudo em linhas ortogonais garridas para fácil identificação.
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A luz amarela quase solidifica o ar denso à nossa volta. Quase se pode mastigar esta solidão de pessoas juntas. Todos olham com um suspiro ou um bocejo os primeiros vestígios de raios de sol, uma leve linha clara que vai contornando ao de leve os telhados. Debaixo deste céu de chumbo ninguém sabe o que é a felicidade.
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Deixo-me embalar pela cadência regular das ligações das calhas. Vou deixando cair as pestanas e cabeceando a atmosfera.
No caminho para qualquer lado, só eu não vou para lado nenhum.
O metro são 3 linhas.
Uma circular mais-ou-menos que acompanha o anel de circulação interior da cidade.
Duas linhas que cruzam este anel sendo coincidentes nesse trajecto. Separam-se nos subúrbios cada uma para seu lado. À primeira vista parece mesmo um cromossoma em crossing-over. (cada um tem os seus referênciais e não vamos discutir mais isto, foi o que me pareceu e pronto!)
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Os vagões do metro tem nomes de cidades europeias. Da europa como definida pelo Conselho da Europa porque a carruagem Ljubljana já está com a tinta descascada há anos.
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O bom de estar no metro é sabermos com o que podemos contar. É um transporte lhano e frontal com o seu painelzinho de leds vermelhos, que mais parece saído de uma caixa de introdução à electrónica dos anos 90, que indicam a paragem onde se encontra o metro e o tempo estimado de espera.
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O metro é feio na generalidade e mesmo os processos de alindamento não foram eficazes. As paredes parecem escorrer já uma gorduranga típica das coisas feias e nojentas e o chão tem a sujidade entranhada nas falhas e está longe de parecer mármore.
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As obras de arte são pobres mas enfim, lá tem um descontente painel de azulejo Viúva Lamego pelo ilustre Júlio Pomar. O tema, o típico, uns Fernandos Pessoas, quatro para fazer a conta dos heterónimos. O Quinto Império continua ali, como Portugal no mundo. Uma obra de arte na linha circular mais-ou-menos, numa estação obnóxia de um bairro degradado onde ninguém nos sabe apreciar.
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O metro são 3 linhas... e nem uma serve para acordar.