domingo, janeiro 30, 2005
O Especialista Francês
sábado, janeiro 29, 2005
Dom Cócó nas coronárias da Europa (I) ou A longa, longa viagem
Dom Cócó nas coronárias da Europa (II) ou O re-re-re-encontro
Dom Cócó nas coronárias da Europa (III) ou O concílio propriamente dito
Dom Cócó nas coronárias da Europa (IV) ou Há vida (social) em Detrasdoburgo
sexta-feira, janeiro 28, 2005
Cidadão-Motorista
Cidadão: Ah, peço desculpa, esqueci-me de picar.
Motorista: Esqueceu-se, estáááá bem. Veja lá se não se esquece do que é importante.
Cidadão: Oiça, já lhe disse que me esqueci.
Motorista: Pois, pois, é sempre a mesma coisa, esquecem-se... já não há respeito pelas regras...
Cidadão: Está a querer insinuar alguma coisa?
Motorista: Se a carapuça servir...
Cidadão: Acredite se quiser. De qualquer dos modos essas afirmações vagas não vão resolver nada. Quer estivesse a mentir ou não, já piquei o bilhete e esses seus comentários vêm além de tarde muito a despropósito. Por isso não me venha com insinuações cobardolas nem moral de bolso. Esqueci-me, pronto, acontece!
Motorista: Mas não devia, mas não devia, é um serviço mas tem de ser pago...
Cidadão (entredentes) : Vai apanhar no cú!
Moral da história: um governo de diálogo pode irritar um cidadão para lá da razoabilidade.
sábado, janeiro 22, 2005
Ao passar o Palais Royal
Regresso a casa a pé e percorro os vinte minutos de caminho acompanhado pelo amarelado reflectido nas fachadas e no filme de água que reveste as lajes do chão.
O vento passa-me húmido pela cara como uma pasta glaciar que lentamente se deixa escorregar pelas as ruas.
O Palácio Real senta-se sólido e largo no meu caminho encimado na bandeira quadrada que drapeja solitária e vigilante.
Achego-me as golas ao queixo e teletransporto-me para um chá de camomila com um farrapo de leite e mel ao som do movimento perpétuo da guitarra do Paredes.
Odeio o tempo que demora chegar a casa mas não me canso e aproveito para repassar os pensamentos no Palais Royal, o meio termo da demanda, o está-quase-só-falta-outro-tanto.
Como a minha estadia em Brochelas...
quinta-feira, janeiro 20, 2005
MIKASA 1 - secretária de monstro horroroso
MIKASA 2 - alienação no sofá-cama
MIKASA 3 - the only way is up
MIKASA 5 - playstation
MIKASA 6 - decoração IKEA
MIKASA 7 - mesa de apoio
O Monstro Horroroso
terça-feira, janeiro 18, 2005
Anita contra a parede
Pode-se encontrar o fresco da dita em Laeken, Avenue de la Reine junto aos caminhos de ferro que foi inaugurado na presença de Sr. Gilbert Delahaye, o autor dos intrincados enredos.
quinta-feira, janeiro 13, 2005
Humor aquoso
Dou you know the difference between a Portuguese woman and a Yeti?
One stinks and has long hair while the other one lives in the Himalaias.
Do you know why Portuguese men fart after having sex?
To put the ass hair back the right way.
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Cocas : ermm... sim... hilariante... (com a boca virada para dentro e voz de nariz entupido)
Eléctrico – Sociedade de Transportes Intercomunais de Bruxelas (III)
Entra-se por uma fresta na lateral do aparelho lumbricóide sem se perceber bem se ele inspira ou expira por ali. Ao carregar no filete verde que medeia as frestas sempre duas a duas, abrem-se como guelras e bafejam-nos os cabelos com um calor húmido levemente exalando a coisas velhas.
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No interior do eléctrico decorre um estudo antropológico secreto. No caminho para qualquer lado estes números aleatórios e raramente repetidos condoem-se a ver a chuva a riscar as janelas por fora. A manhã ainda não sorriu sobre o toldo cinzento e as pessoas agarram bem os agasalhos onde o vento forte se esfrega. Cá dentro há calor. Quentinho.
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Há muita gente sozinha. Acho que só duas pessoas conversam mas é numa algaraviada tal que não faço sequer esforço para perceber. Tento distrair-me a ver a sinalética dos trajectos, toda planificada e não cruzada, tudo em linhas ortogonais garridas para fácil identificação.
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A luz amarela quase solidifica o ar denso à nossa volta. Quase se pode mastigar esta solidão de pessoas juntas. Todos olham com um suspiro ou um bocejo os primeiros vestígios de raios de sol, uma leve linha clara que vai contornando ao de leve os telhados. Debaixo deste céu de chumbo ninguém sabe o que é a felicidade.
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Deixo-me embalar pela cadência regular das ligações das calhas. Vou deixando cair as pestanas e cabeceando a atmosfera.
No caminho para qualquer lado, só eu não vou para lado nenhum.
Metro – Sociedade de Transportes Intercomunais de Bruxelas (II)
O metro são 3 linhas.
Uma circular mais-ou-menos que acompanha o anel de circulação interior da cidade.
Duas linhas que cruzam este anel sendo coincidentes nesse trajecto. Separam-se nos subúrbios cada uma para seu lado. À primeira vista parece mesmo um cromossoma em crossing-over. (cada um tem os seus referênciais e não vamos discutir mais isto, foi o que me pareceu e pronto!)
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Os vagões do metro tem nomes de cidades europeias. Da europa como definida pelo Conselho da Europa porque a carruagem Ljubljana já está com a tinta descascada há anos.
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O bom de estar no metro é sabermos com o que podemos contar. É um transporte lhano e frontal com o seu painelzinho de leds vermelhos, que mais parece saído de uma caixa de introdução à electrónica dos anos 90, que indicam a paragem onde se encontra o metro e o tempo estimado de espera.
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O metro é feio na generalidade e mesmo os processos de alindamento não foram eficazes. As paredes parecem escorrer já uma gorduranga típica das coisas feias e nojentas e o chão tem a sujidade entranhada nas falhas e está longe de parecer mármore.
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As obras de arte são pobres mas enfim, lá tem um descontente painel de azulejo Viúva Lamego pelo ilustre Júlio Pomar. O tema, o típico, uns Fernandos Pessoas, quatro para fazer a conta dos heterónimos. O Quinto Império continua ali, como Portugal no mundo. Uma obra de arte na linha circular mais-ou-menos, numa estação obnóxia de um bairro degradado onde ninguém nos sabe apreciar.
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O metro são 3 linhas... e nem uma serve para acordar.
sábado, janeiro 08, 2005
Autocarro - Sociedade de Transportes Intercomunais de Bruxelas (I)
Também a travagem ganha uma proporção diferente porque aliada a uma guinada para a direita para acostar na paragem mais parecemos os tripulantes da espacial U.S.S. Enterprise atingida por uma bomba de fotões. Toda a gente se recompõe e levanta do chão e até as desculpas por ter aterrado a mão em cima de uma qualquer mama já nem são necessárias.
Introduziu-se recentemente, só em alguns veículos da frota, uma forma inovadora de controle. Fazer as pessoas entrar pela frente do autocarro e sair por trás! Grandes parangonas foram postas nos vidros a pedir ao passageiro para, por favor, se dirigir ao fundo do autocarro. Mas talvez devessem ter escrito em inglês para as pessoas poderem ler. É que insistem em entupir a entrada e o motorista não põe ordem naquilo. Pois que o trabalho dele é só guiar, não é fazer controle nem impor respeito, conforme atesta o acrílico que divide o seu pequeno mundo de botõezinhos das vidas pessoais de cada um.
terça-feira, janeiro 04, 2005
sobre o chico-espertismo
A resposta não carece de grandes elaborações: Sim!
Agora é que vou efabular um pouco. Não é elaborar, isso é o que se responde numa pergunta de exame e que está quase sempre incompleto.
Esta nossa qualidade é mesmo reconhecida pelos italianos que denominaram "fare a la portoghese" o acto de passar à frente numa fila.
Somos um povo de atalhos e disso não há que ter vergonha. Somos um povo que se socorre de intrumentos diversos e intuitivos, cuja mestria adquirimos com o tempo. Falo naturalmente da manigância, da malandrice, do arranjar-se, da cunha, da sacanice, do tacho e quejandos. Sempre todos costas com costas para proteger o nosso pequeno feudo.
Na realidade, o chico-espertismo parece funcionar apenas numa escala pequena e quotidiana. Nunca passou pela cabeça de ninguém usar semelhante estratégia para chegar à frente em alguma coisa de valor na Europa, nem sequer para ludibriar as altas instâncias europeias do défice nacional. Neste aspecto fomos suplantados pela Itália e pela Grécia, que o fizeram antes de nós, mas mal porque foram descobertas.
Isso sim é vergonha, roubar e não ter mãos para acartar e no fim ser-se descoberto. De resto parece que tudo vale para o chico-esperto, uma coroa de louros na alma portuguesa.