domingo, janeiro 30, 2005

O clube vison


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Teresa Tosta Macedo numa mistificação alternativa.
Chamemos-lhe Abstracto #1. Posted by Hello

Detrasdoburgo


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Estes gauleses são doidos.
Chamemos-lhe Arte Urbana #1Posted by Hello

O Especialista Francês


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Aqui está ele em plena acção, apanhado pela minha câmara de vigilância.
Estavamos a jogar à batalha naval e o ar ensimesmado foi porque preparava contra-ofensiva depois de lhe ter afundado o porta-aviões. Posted by Hello

sábado, janeiro 29, 2005

Dom Cócó nas coronárias da Europa (I) ou A longa, longa viagem

O hangar desta vez havia sido substituido pelo bulício de uma estação no subsolo. Dom Cócó nunca tinha visto nada tão modesto e ao mesmo tempo tão moderno. Aquela paragem ficava num piso subterrâneo ao Parladeiro Europeu, nome carinhoso dado por si por ser onde as pessoas falam muito sobre coisa nenhuma que se entenda. A bilheteira internacional, não fugindo aos tons da arquitectura contemporânea de cores frias e alumínios, tinha uma porta de tecnologia duvidosa. Parecia uma daquelas automáticas que abrem por aproximação mas tinha uma particularidade, quando uma pessoa se aproximava ela não se abria. Os anõezinhos que empurram a porta ou precisavam de uma consulta no oftalmologista ou então faziam parte de um grande conluio para apanharem Dom Cócó num momento de hesitação para a televisão. Sem saber o que fazer, ele esperou. Esperou que alguem se aventurasse a ir de encontro as caras curiosas dos senhores nos guichets que o olhavam entretanto já com alguma suspeita.
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Depois de perceber que a porta funcionava era por contacto, lá entrou com um furacãozinho negro sobre a cabeça e nem sequer se esforçou para falar na língua local mas antes optou pela segurança de um dialecto científico perceptível por qualquer imbecil da nossa era, o Anglês. Foi entrar e sair. De bilhete na mão cumpria-lhe agora ir num pézinho buscar a sua geringonça de colo e voltar no outro para apanhar o combóio-diligência-limpa-neves. O conforto dos vagões era valioso não pelos acabamentos mas pela rarefacção de pessoas. Um passageiro por cada dois assentos e ainda com direito a mesinha de apoio.
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À sua frente e de costas para o destino viajava um senhor já de certa idade. Não sendo propriamente uma idade respeitavel, era uma idade daquelas chatas – a da pré-reforma. Antevendo, por isso, o que poderiam constituir 5 horas de suplício, Dom Cócó submergiu o olhar nos caracteres pequeninos de um romance policial pouco menor que uma Bíblia.
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De vez em quando deitava o periscópio sobre o seu companheiro de viagem só para verificar a sua condição de saúde. Inadvertidamente, lançou o olhar sobre os papeis do concidadão e lembrou-se do motivo da sua viagem. Aparentemente tinham ambos o mesmo destino. O grande concílio de Organizações Não Estatais ou que não se enquadram na estrutura de Estado por não serem tão úteis assim. O senhor ia em representação da Associação Mundial de Espertanto, por certo incluído no subgrupo de Linguas Transversais Comuns Que Nunca Existiram. Aí, Dom Cócó teve a confirmação: Reforma Antecipada, sem sombra de dúvida.
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As paisagens sumptuosas das florestas de coníferas sucumbindo ao peso das neves fizeram Cócó pensar como os grandes esmagam os pequenos, mas isso acontece só por um periodo limitado de tempo porque aparece sempre um maior para derreter o opressor. Nisto, repara que já tinha passado por 2 países e que ninguem lhe verificava identidade, processo de avaliação que aliás odiava. Havia um receio que palpitava na nuca de ser confundido com um vulgar meliante e de se ver enredado numa situação kafkiana.

Dom Cócó nas coronárias da Europa (II) ou O re-re-re-encontro

A estação vermelho-ferrugem era em tijolo à antiga. Anunciava-se o final da viagem, o estiramento das pernas como recompensa e os bocejos que são os hurras dos viajantes.
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A chegada a Detrasdoburgo veio mesmo na linha de encontro ao que tinha pensado. Andando à sua frente um jovem desportivo, descomprometido foi incentivado a por as mãos na parede para facilitar a revista pelos agentes da Duane. Tratava-se de uma polícia secreta que até tinha cães por agentes o que dizia muito sobre os critérios de destreza mental exigidos para lhe pertencer.
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O reencontro com o seu antigo colega de Altos-Estudos Aplicados à Ciência do Medicamento foi caloroso. Até se deitarem andaram num não parar de perguntas, respostas, actualizações de informação, anedotas e até um ou outro peido. Coisas de quem não se via há muito tempo. O jeito de falar do seu colega era nervoso e ansioso obrigando-o a paragens de língua nalgumas sílabas, o que tornava as conversas arrastadas, mas o prazer de adivinhar o final da frase era um desafio prazenteiro. De simpatia desmedida, hospedou-os a ele e ao colega especialista francês, que não chegaria senão mais junto da meia noite, na sua casa de decoração minimal desafiada pelo tempo (pelo tempo que é preciso dispender para andar à procura de mobília e equipamentos).
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O colega francês era um especialista nas matérias de relações internacionais dentro do enquadramento Europeu sobretudo as que não tinham nada a ver com medicamentos. Claro que a sageza única da língua Franca permitia-lhe também um domínio total das discussões nas reuniões, não fosse Dom Cócó ficar com a inteligibilidade presa nalgum vocábulo regional.
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Bem dormidos apressaram o passo nos jardins nevados que mediavam a casa do Concílio da Europa. A segurança apertada na entrada, comparada à de um aeroporto internacional impunha ali logo o respeito pela burocracia do local. Era o jogo dos meninos crescidos. Dom Cócó estava como peixe na água. Não por achar que ali pertencesse, mas por estar perfeitamente descontraído uma vez que nada era esperado dele. Podia dedicar-se ao que mais gostava de fazer – observar.

Dom Cócó nas coronárias da Europa (III) ou O concílio propriamente dito

Os interiores do edifício ecoavam um grito de anos setenta por todo o vão de madeiras ripadas. Da escadaria central escorria uma alcatifa em cascata de cor impossivel de fazer jamais, o caril-pistachio. Por todo o lado se viam contraplacados e laminados diversos bem como feixes de fios expostos, oxidados pelo tempo, denotando que o edifício não tinha sido planeado para a rápida voragem da tecnologia.
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Por tentaiva e erro, lá encontraram a sala que albergava a sua reunião. Como pessoas importantes fizeram-se esperar, mostrando que o seu tempo não era menos importante que o dos outros. Obviamente que ninguem fazia ideia de quem eram e tinham começado sem eles. Todo o hemiciclo se enchia de grisalhas personagens, carecas respeitáveis e óculos escolásticos. Um conjunto de bocas que despejavam sabedoria de tanto comerem papeis velhos o que lhes deixava restinhos brancos aos cantos e tornava os dentes amarelos.
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Dom Cócó entretinha-se num jogo inventado por si que era adivinhar só de olhar para os parlantes, a possível organização que representavam. Exemplificando, a idosa pálida que erguia a mão tremelicante no ar para fazer a mesma pergunta duas vezes seria acertadamente da Associação Báltica de Doentes de Parkinson e Alzheimer.
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Muitos personagens estranhos cruzaram os caminhos destes dois Euro-errantes: Desde as sorridentes Sociedade Europeia de Falcoaria, Associação Europeia de Professores de Línguas Mortas (tentem ensinar o que quer que seja a uma língua morta...), Associação Abolicionista Europeia (missão: acabar com a prostituição ilegal), às pseudo-secretas Lions Club Internacional, Rotary Club Internacional, passando pelas cripticas Mission Europa, WorldwideProtection. Todos os reflexos multiculturais da sociedade civil pareciam representados. Era um tutti-frutti.
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O ponto alto da visita de Dom Cócó foi verificar que havia apenas uma conterrânea sua. Tratava-se da Marquesa Teresa Tosta de Macedo, senhora importante, ex-Secretária de Estalo da Família que tutelava a Casa Tia, um conjunto de orfanatos, num momento menos feliz da isntituição. Dom Cócó fez questão de lhe deixar um cartão com um sorriso e umas palavras na sua língua materna. A Marquesa e suas amigas exalavam distinção. No meio das organizações pé-rapadas que mal coordenavam as cores ela ronronava o seu casaco de peles, sacudia o seu cabelo insuflado e os doirados nos brincos e pulseiras luziam como resplendores. Sem conseguir disfarçar, Dom Cócó, encheu o peito de comoção e orgulho.
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(Os nomes contidos neste texto não são de pura ficção mas foram alterados apenas o suficiente para não ser processado judicialmente. O nome das associações permanece intacto para vergonha das mesmas.)

Dom Cócó nas coronárias da Europa (IV) ou Há vida (social) em Detrasdoburgo

Dertasdoburgo é uma daquelas cidades que convidam sempre a voltar. Não por ter alguma coisa de especial mas simplesmente porque é uma cidade onde as coisas funcionam além de nada estar estragado. Dom Cócó admirou-se com os detalhes do eléctrico futurista que cruza a cidade com ruído mínimo. Por ser envidraçado de alto a baixo a claustrofobia é substituida pela placidez da relva que lhe passa rente aos pés, junto das calhas. Cada estação está identificada por uma voz diferente que comunica a aproximação da paragem acompanhada também de um som especial diferente para cada uma.
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A cultura local bebe de influências da nação vizinha. O prato local é chucrute e bratwurst denunciando que a invasão foi bem sucedida e que este transitar de fronteira não faz das pessoas nem mais nem menos Francas. A Germania, que tantos insondaveis segredos guarda, parece um livro aberto à região alsaciana. Até mesmo a algaraviada que é o dialecto local mantem gordas semelhanças com a língua de Riefenstahl.
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Numa dessas noites foram a uma cervejeira local provar a beberragem lá feita e comer o que eles chamam de Flammekueche. Imagine-se uma espécie de crepe mas mais consistente e salgado coberto de ingredientes da italina pizza. Não sendo bem um nem a outra era muito bom também. Tal lhe deixou a impressão que entre o arroz de marisco e a paella muito ainda fica por explorar.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Cidadão-Motorista

Motorista: Olhe faz favor, ou mostra o passe ou oblitera o bilhete.
Cidadão: Ah, peço desculpa, esqueci-me de picar.
Motorista: Esqueceu-se, estáááá bem. Veja lá se não se esquece do que é importante.
Cidadão: Oiça, já lhe disse que me esqueci.
Motorista: Pois, pois, é sempre a mesma coisa, esquecem-se... já não há respeito pelas regras...
Cidadão: Está a querer insinuar alguma coisa?
Motorista: Se a carapuça servir...
Cidadão: Acredite se quiser. De qualquer dos modos essas afirmações vagas não vão resolver nada. Quer estivesse a mentir ou não, já piquei o bilhete e esses seus comentários vêm além de tarde muito a despropósito. Por isso não me venha com insinuações cobardolas nem moral de bolso. Esqueci-me, pronto, acontece!
Motorista: Mas não devia, mas não devia, é um serviço mas tem de ser pago...
Cidadão (entredentes) : Vai apanhar no cú!

Moral da história: um governo de diálogo pode irritar um cidadão para lá da razoabilidade.

sábado, janeiro 22, 2005

Ao passar o Palais Royal


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Estive no centro com amigos, a beber vinho, a comer queijo, em bricolage de amizade.
Regresso a casa a pé e percorro os vinte minutos de caminho acompanhado pelo amarelado reflectido nas fachadas e no filme de água que reveste as lajes do chão.
O vento passa-me húmido pela cara como uma pasta glaciar que lentamente se deixa escorregar pelas as ruas.
O Palácio Real senta-se sólido e largo no meu caminho encimado na bandeira quadrada que drapeja solitária e vigilante.
Achego-me as golas ao queixo e teletransporto-me para um chá de camomila com um farrapo de leite e mel ao som do movimento perpétuo da guitarra do Paredes.
Odeio o tempo que demora chegar a casa mas não me canso e aproveito para repassar os pensamentos no Palais Royal, o meio termo da demanda, o está-quase-só-falta-outro-tanto.
Como a minha estadia em Brochelas...

quinta-feira, janeiro 20, 2005

MIKASA 1 - secretária de monstro horroroso


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Este é o projecto de nona arte do monstro...
Um work in progress há já 3 meses para parir esta prancha foleira.
Ao lado podemos ver as fotos da monstra.
Brilhando, em alumínio, o seu suporte design para telemóvel Posted by Hello

MIKASA 2 - alienação no sofá-cama


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RTP Internacional está a dar.
Anuncia um jogo amigável no campo do Futebol Clube Angrense de TorontoPosted by Hello

MIKASA 3 - the only way is up


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Cada vez que desço do quarto tenho de esbarrar ca puta da couve.
Depois de lhe explicar uma mão cheia de vezes que a funcionalidade não se deve subjugar à estética, ele continua a rodar o vaso só para me irritar.Posted by Hello

MIKASA 4 - luz e cor


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Os CDs são inenarraveis.
O poster do Miró é piorPosted by Hello

MIKASA 5 - playstation


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Os azulejos foram todos esfregadinhos no meu primeiro dia.
Os utensílios são meus e a manutenção da zona de trabalho também.
Criam-se aqui grandes patuscadasPosted by Hello

MIKASA 6 - decoração IKEA


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Perspectiva geral da zona comum.
Cadeiras levemente inspiradas em Mies Van der Rohe mas em naponga da má.
Notem-se os limites cozinha inspirados em "dogville" Posted by Hello

MIKASA 7 - mesa de apoio


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A mesa está divida em dois. As minhas revistas numa pilha, as dele na outra.
Eu deixo ali as minhas na vaga esperança que ele lhes pegue e apanhe umas dicas...Posted by Hello

O Monstro Horroroso


Lucas on the phone
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Vitória, vitória chegou o momento
de anunciar o aprisionamento
do monstro
flagelo do nosso sossego tão precioso
- Monstro horroroso!

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Canção do Guarda Serôdio
in
Amigos de GasparPosted by Hello

terça-feira, janeiro 18, 2005

Anita contra a parede


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A Anita é já cinquentenária e nem uma ruga lhe assombra os múltiplos périplos por que passou.
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Agora feita mural, este produto belga é a última coqueluche da arte urbana de Bruxelas. A Bélgica, como valoriza a nona arte que tantos artistas lhe pôs no berço, presta homenagem aos desenhadores e às personagens com murais nas laterais dos edifícios, como coisa própria e tão genuinamente sua quanto um gofre (waffle, gaufre...) .
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Mas voltando à Anita (Martine na língua de Richelieu), o mais que tudo das meninas e bem de alguns meninos, não há vergonha nenhuma em admiti-lo numa sociedade tão plural e tolerante (?). Sempre me intrigou a sua inocência deslavada e a nunca explicada relação com o Pantufa (Patapouf), uma espécie de Sancho Pança mas com mais pelo. Em cinquenta anos esta tipa já fez de tudo: desde férias na quinta, a visitas ao zoo, à praia, viagens de barco, de balão... arriscaria mesmo a dizer que é mais viajada que o próprio Mário Soares. No entanto, fica bem melhor em fato de banho. Aliás, as suas roupinhas anódinas terão inspirado muitos instintos de Lolita em pessoas de bigode farto e dentes amarelos que deixam baba nos cantos da boca ao ler o Anita aprende a nadar.
Esta moçoila foi inspiração para já 4 ou 5 gerações de mulheres que descobrem através da leitura os segredos mais doméstico-insidiosos logo desde tenra idade ao assisitir à Anita a passear-se da cozinha para a maternidade. Mas hoje em dia não se pode já contar com o machismo repressor e a Anita moderna faz vela e baby-sitting sendo muito provavelmente bem paga para isso. Talvez num futuro próximo vejamos mesmo a Anita gestora de empresas, Anita vai ao Banco de Ford Focus ou mesmo Anita engata na Kapital.
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A imortal heroína de Marcel Marlier está de meia idade e passou directamente à menopausa sem nunca ter menarca. Alguem se lembra de algum Anita mete o penso, Anita vai ao ginecologista ver da gonorreia ou mesmo um educativo Anita lava-se por baixo?
Pode-se encontrar o fresco da dita em Laeken, Avenue de la Reine junto aos caminhos de ferro que foi inaugurado na presença de Sr. Gilbert Delahaye, o autor dos intrincados enredos.

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Esta gaja já cá anda há tanto tempo que é caso para fazer um novo livro: Anita InoxidávelPosted by Hello

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Humor aquoso

Não há 10 minuos que tive uma "near-muppet experience" ou em bom português senti que fizeram de mim marreta. Imaginem o Cocas a ouvir as piadas do Fozzie neste caso representado pelo inenarrável Lucas (ver posts anteriores).
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Dou you know the difference between a Portuguese woman and a Yeti?

One stinks and has long hair while the other one lives in the Himalaias.

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Do you know why Portuguese men fart after having sex?

To put the ass hair back the right way.
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Fozzie : Giiiiira, hein?! (de boca bem aberta a ver-se uma língua de pano)

Cocas
:
ermm... sim... hilariante... (com a boca virada para dentro e voz de nariz entupido)

Eléctrico – Sociedade de Transportes Intercomunais de Bruxelas (III)

Entra-se por uma fresta na lateral do aparelho lumbricóide sem se perceber bem se ele inspira ou expira por ali. Ao carregar no filete verde que medeia as frestas sempre duas a duas, abrem-se como guelras e bafejam-nos os cabelos com um calor húmido levemente exalando a coisas velhas.

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No interior do eléctrico decorre um estudo antropológico secreto. No caminho para qualquer lado estes números aleatórios e raramente repetidos condoem-se a ver a chuva a riscar as janelas por fora. A manhã ainda não sorriu sobre o toldo cinzento e as pessoas agarram bem os agasalhos onde o vento forte se esfrega. Cá dentro há calor. Quentinho.

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Há muita gente sozinha. Acho que só duas pessoas conversam mas é numa algaraviada tal que não faço sequer esforço para perceber. Tento distrair-me a ver a sinalética dos trajectos, toda planificada e não cruzada, tudo em linhas ortogonais garridas para fácil identificação.

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A luz amarela quase solidifica o ar denso à nossa volta. Quase se pode mastigar esta solidão de pessoas juntas. Todos olham com um suspiro ou um bocejo os primeiros vestígios de raios de sol, uma leve linha clara que vai contornando ao de leve os telhados. Debaixo deste céu de chumbo ninguém sabe o que é a felicidade.

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Deixo-me embalar pela cadência regular das ligações das calhas. Vou deixando cair as pestanas e cabeceando a atmosfera.

No caminho para qualquer lado, só eu não vou para lado nenhum.

Metro – Sociedade de Transportes Intercomunais de Bruxelas (II)

O metro são 3 linhas.

Uma circular mais-ou-menos que acompanha o anel de circulação interior da cidade.

Duas linhas que cruzam este anel sendo coincidentes nesse trajecto. Separam-se nos subúrbios cada uma para seu lado. À primeira vista parece mesmo um cromossoma em crossing-over. (cada um tem os seus referênciais e não vamos discutir mais isto, foi o que me pareceu e pronto!)

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Os vagões do metro tem nomes de cidades europeias. Da europa como definida pelo Conselho da Europa porque a carruagem Ljubljana já está com a tinta descascada há anos.

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O bom de estar no metro é sabermos com o que podemos contar. É um transporte lhano e frontal com o seu painelzinho de leds vermelhos, que mais parece saído de uma caixa de introdução à electrónica dos anos 90, que indicam a paragem onde se encontra o metro e o tempo estimado de espera.

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O metro é feio na generalidade e mesmo os processos de alindamento não foram eficazes. As paredes parecem escorrer já uma gorduranga típica das coisas feias e nojentas e o chão tem a sujidade entranhada nas falhas e está longe de parecer mármore.

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As obras de arte são pobres mas enfim, lá tem um descontente painel de azulejo Viúva Lamego pelo ilustre Júlio Pomar. O tema, o típico, uns Fernandos Pessoas, quatro para fazer a conta dos heterónimos. O Quinto Império continua ali, como Portugal no mundo. Uma obra de arte na linha circular mais-ou-menos, numa estação obnóxia de um bairro degradado onde ninguém nos sabe apreciar.

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O metro são 3 linhas... e nem uma serve para acordar.

sábado, janeiro 08, 2005

Autocarro - Sociedade de Transportes Intercomunais de Bruxelas (I)

O autocarro em bruxelas pode parecer em tudo semelhante ao curriqueiro amarelinho da Carris mas tem certas diferenças sobretudo no que toca à fauna que o utiliza e ao animal que a conduz. Aqui pertence a uma superestrutura que congrega autocarros-metro-eléctricos que se chama STIB.
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A fauna que transita regularmente os transportes é silenciosa ainda que na sua maioria sejam minorias étnicas. Portanto, apesar de cores diferentes, vestimenta diversa não-ocidental e culturas expressas, são respeitadores da ordem e do devir diário da cidade.
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Até aqui parece simples e bonito. Mas se no entanto pensa fazer do autocarro uma experiência multicultural desengane-se. É preciso ter atenção ao caminho e à paragem desejada. A velocidade impressa pelo motorista na viatura é de tal ordem que seriam essenciais sapatos íman para suportar os Gês que nos empurram todos para a traseira do veículo ao arrancar.
Também a travagem ganha uma proporção diferente porque aliada a uma guinada para a direita para acostar na paragem mais parecemos os tripulantes da espacial U.S.S. Enterprise atingida por uma bomba de fotões. Toda a gente se recompõe e levanta do chão e até as desculpas por ter aterrado a mão em cima de uma qualquer mama já nem são necessárias.
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Isto tudo em prol do cumprimento dos horários, ai jesus, que tudo tem que andar em cima do relógio. De facto, todos os autocarros estão equipados com um relógio digital e um letreiro que indica o nome da paragem. E não é que andam mesmo a horas?! Ao pelo.
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Mas muito sinto a falta da Carris. Aqui faz-se uma festa pela introdução da primeira carreira nocturna - O N71, pelo autocarro para o aeroporto, pelo painel electrónico com informação dos próximos a chegar...
Introduziu-se recentemente, só em alguns veículos da frota, uma forma inovadora de controle. Fazer as pessoas entrar pela frente do autocarro e sair por trás! Grandes parangonas foram postas nos vidros a pedir ao passageiro para, por favor, se dirigir ao fundo do autocarro. Mas talvez devessem ter escrito em inglês para as pessoas poderem ler. É que insistem em entupir a entrada e o motorista não põe ordem naquilo. Pois que o trabalho dele é só guiar, não é fazer controle nem impor respeito, conforme atesta o acrílico que divide o seu pequeno mundo de botõezinhos das vidas pessoais de cada um.

terça-feira, janeiro 04, 2005

sobre o chico-espertismo

Perguntaram-me se realmente sentia falta do chico-espertismo nacional como disse há 2 posts atrás.
A resposta não carece de grandes elaborações: Sim!
Agora é que vou efabular um pouco. Não é elaborar, isso é o que se responde numa pergunta de exame e que está quase sempre incompleto.
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Ser-se chico-esperto é uma qualidade portuguesa sui-géneris. Não sendo uma qualidade da qual nos gabemos amíude, faz-nos falta à sobrevivência europeia. Não temos a disciplina nórdica, não temos o rigor da Europa central, não somos naturalmente laboriosos como os congéneres de Leste mas temos (e achamo-nos no direito de ter) tudo o que eles têm.
Esta nossa qualidade é mesmo reconhecida pelos italianos que denominaram "fare a la portoghese" o acto de passar à frente numa fila.
Somos um povo de atalhos e disso não há que ter vergonha. Somos um povo que se socorre de intrumentos diversos e intuitivos, cuja mestria adquirimos com o tempo. Falo naturalmente da manigância, da malandrice, do arranjar-se, da cunha, da sacanice, do tacho e quejandos. Sempre todos costas com costas para proteger o nosso pequeno feudo.
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O contrário de chico-esperto é pacóvio. Nota-se particularmente por sofrer em silêncio e muitas vezes ser vítima do primeiro até mesmo sem o saber. O melhor chico-esperto não se faz notar ainda que goste que a sua arte seja apreciada por alguns poucos. É vulgar ser visto a confraternizar com outros da mesma espécie, partilhando façanhas.
A melhor maneira de despertar o chico-espertismo num pacato português é colocá-lo no estrangeiro. Com a séria desculpa de não falarem a língua e de virem de um país reconhecidamente desfavorecido em tecnologias parece que tudo lhes é permitido.
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Dir-se-ia que seríamos os ciganões da Europa, mas tal não é verdade porque esses estão na Roménia como toda a gente sabe.
Na realidade, o chico-espertismo parece funcionar apenas numa escala pequena e quotidiana. Nunca passou pela cabeça de ninguém usar semelhante estratégia para chegar à frente em alguma coisa de valor na Europa, nem sequer para ludibriar as altas instâncias europeias do défice nacional. Neste aspecto fomos suplantados pela Itália e pela Grécia, que o fizeram antes de nós, mas mal porque foram descobertas.
Isso sim é vergonha, roubar e não ter mãos para acartar e no fim ser-se descoberto. De resto parece que tudo vale para o chico-esperto, uma coroa de louros na alma portuguesa.
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(Se tivesse efabulado no meu período universitário talvez tivesse tido melhores notas. Mas nãããão, eu tinha de fazer tudo correcto e ter a nota merecida em vez de me armar em chico-esperto. A minha média faz, pois juz ao nome. É média.)

segunda-feira, janeiro 03, 2005

 
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