sábado, janeiro 29, 2005

Dom Cócó nas coronárias da Europa (III) ou O concílio propriamente dito

Os interiores do edifício ecoavam um grito de anos setenta por todo o vão de madeiras ripadas. Da escadaria central escorria uma alcatifa em cascata de cor impossivel de fazer jamais, o caril-pistachio. Por todo o lado se viam contraplacados e laminados diversos bem como feixes de fios expostos, oxidados pelo tempo, denotando que o edifício não tinha sido planeado para a rápida voragem da tecnologia.
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Por tentaiva e erro, lá encontraram a sala que albergava a sua reunião. Como pessoas importantes fizeram-se esperar, mostrando que o seu tempo não era menos importante que o dos outros. Obviamente que ninguem fazia ideia de quem eram e tinham começado sem eles. Todo o hemiciclo se enchia de grisalhas personagens, carecas respeitáveis e óculos escolásticos. Um conjunto de bocas que despejavam sabedoria de tanto comerem papeis velhos o que lhes deixava restinhos brancos aos cantos e tornava os dentes amarelos.
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Dom Cócó entretinha-se num jogo inventado por si que era adivinhar só de olhar para os parlantes, a possível organização que representavam. Exemplificando, a idosa pálida que erguia a mão tremelicante no ar para fazer a mesma pergunta duas vezes seria acertadamente da Associação Báltica de Doentes de Parkinson e Alzheimer.
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Muitos personagens estranhos cruzaram os caminhos destes dois Euro-errantes: Desde as sorridentes Sociedade Europeia de Falcoaria, Associação Europeia de Professores de Línguas Mortas (tentem ensinar o que quer que seja a uma língua morta...), Associação Abolicionista Europeia (missão: acabar com a prostituição ilegal), às pseudo-secretas Lions Club Internacional, Rotary Club Internacional, passando pelas cripticas Mission Europa, WorldwideProtection. Todos os reflexos multiculturais da sociedade civil pareciam representados. Era um tutti-frutti.
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O ponto alto da visita de Dom Cócó foi verificar que havia apenas uma conterrânea sua. Tratava-se da Marquesa Teresa Tosta de Macedo, senhora importante, ex-Secretária de Estalo da Família que tutelava a Casa Tia, um conjunto de orfanatos, num momento menos feliz da isntituição. Dom Cócó fez questão de lhe deixar um cartão com um sorriso e umas palavras na sua língua materna. A Marquesa e suas amigas exalavam distinção. No meio das organizações pé-rapadas que mal coordenavam as cores ela ronronava o seu casaco de peles, sacudia o seu cabelo insuflado e os doirados nos brincos e pulseiras luziam como resplendores. Sem conseguir disfarçar, Dom Cócó, encheu o peito de comoção e orgulho.
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(Os nomes contidos neste texto não são de pura ficção mas foram alterados apenas o suficiente para não ser processado judicialmente. O nome das associações permanece intacto para vergonha das mesmas.)

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