Quando se pensava tudo estar perdido, que me tornaria depressa numa anémona em enclave rochoso aparece luminoso um festival de cinema.
está bem que é um pouco a dar para o reviralho mas enfim, é o que há e não me vou queixar.
http://bxl.attac.be/spip/
quinta-feira, outubro 28, 2004
terça-feira, outubro 26, 2004
Deito-me agora em post-scriptum com um barrete vermelho
Depois de tantos dias fora voltei à segunda base. É estranho o conforto que me proporciona a escrita que se propicia. Podia ser uma musica do Sérgio Godinho mas o que me apetece mesmo agora é “retrospectivar um pouco”.
Não há como fugir, descanso a ouvir musica e escrever, gosto mesmo disto mas quis o destino que houvesse de servir a sociedade doutro modo. Não é para perceber, é mesmo assim e é justo porque é igual para todos. Se trabalhassemos com gosto não havia porquê de tirar férias. Pode-se dizer que “Ah! Não senhores! Eu gosto muito daquilo que faço e tento sempre dar o meu melhor e de ser profissional”. Eu digo: Barda-merda! Ser bom no que se faz não significa gostar-de disso.
Lembro-me como se fosse hoje. Tinhamos ficado sem electricidade no Lote 67 e estavamos à luz de velas a discutir o que o pequeno (eu) “queria ser quando fosse grande”. Como boa criança sonhadora e prefeitamente estúpida, animado pelos programas da manhã e por dois ou três livros do Cousteau, disse que queria ter um barrete vermelho e ser biólogo marinho. Minha mãe sempre prática avalizou o meu sonho como uma idiotice. Que fosse mas é para alguma coisa que desse dinheiro. Médico, já se via...
Agora que penso nisso, a vida do Jean-Jacques devia ser um pânicozinho todo junto. Só a logistica dos barcos e das expedições devia dar uns meses a arrancar cabelos. Hoje nem pó e ja me esbofeteei mais duas vezes pelas coisas parvas que disse na infância.
Tinha bem razão o meu pai quando acabou a conversa: “Gostar do que se faz não interessa na medida em que quem o faz melhor é que recebe mais dinheiro”.
Não há como fugir, descanso a ouvir musica e escrever, gosto mesmo disto mas quis o destino que houvesse de servir a sociedade doutro modo. Não é para perceber, é mesmo assim e é justo porque é igual para todos. Se trabalhassemos com gosto não havia porquê de tirar férias. Pode-se dizer que “Ah! Não senhores! Eu gosto muito daquilo que faço e tento sempre dar o meu melhor e de ser profissional”. Eu digo: Barda-merda! Ser bom no que se faz não significa gostar-de disso.
Lembro-me como se fosse hoje. Tinhamos ficado sem electricidade no Lote 67 e estavamos à luz de velas a discutir o que o pequeno (eu) “queria ser quando fosse grande”. Como boa criança sonhadora e prefeitamente estúpida, animado pelos programas da manhã e por dois ou três livros do Cousteau, disse que queria ter um barrete vermelho e ser biólogo marinho. Minha mãe sempre prática avalizou o meu sonho como uma idiotice. Que fosse mas é para alguma coisa que desse dinheiro. Médico, já se via...
Agora que penso nisso, a vida do Jean-Jacques devia ser um pânicozinho todo junto. Só a logistica dos barcos e das expedições devia dar uns meses a arrancar cabelos. Hoje nem pó e ja me esbofeteei mais duas vezes pelas coisas parvas que disse na infância.
Tinha bem razão o meu pai quando acabou a conversa: “Gostar do que se faz não interessa na medida em que quem o faz melhor é que recebe mais dinheiro”.
Um Cócó em Praga
(mais um evento entre a ficção e o desenho animado)
E assim foi, Dom Cócó retomou as peripécias em viagem, desta vez explorando as tecnologias de topo, orgulho deste novo século. Mandou vir o bilhete pelo correio de alta velocidade que são uns póneizinhos muito, muito, muito pequeninos que correm dentro duns tubinhos e vão a casa de toda a gente. Toda a gente importante entenda-se. Assim como o Dom Cócó. Sentiu-se ele nada mais do que desconsolado por agora ter de levar o número do seu bilhete escrito numa folha branca e a probabilidade de se perder nos seus papéis ser maior ao invés de ter um cartão próprio.
Pelo menos a companhia que voava, companhia da sua nova e moderna cidade, era das que servia comida, obviamente por reconhecer o quanto isso contribuia para o regozijo dos tripulantes. Dom cócó adormeceu um pouco para poupar os seus musculos faciais para as expressões artificiais que teria de fazer nos próximos dias. Como se quer a um diplomata de craveira, nos dias anteriores tinha escrito os discursos que iria fazer, preparado as reuniões que iria ter e treinado ao espelho os olhares e as caretas variadas a usar nos intervalos sociais do seu emprego.
Muito gostou de Praga, Dom Cócó, lugar onde a temperatura era tão baixa como o preço da cerveja (expressão que anotou para usar nas suas memórias).
Pensar-se-ia: Mas que diabo faria Dom Cócó em tão vil cidade? Pois em virtude da sua posição importante, deslocou-se ele em trabalho para ajudar numas conferências que outros senhores importantes fazem regularmente.
Fez o que lhe competiu e ainda recebu elogios. Ainda foi convidado para discursar no final da conferência apresentando os resultados da sua humilde contribuição. O que é certo é que estavam quase 8 pessoas na audiência ouvindo atentamente. “Quase”, porque uma era perneta. Dom Cócó não conseguiu esconder o orgulho de perceber que as outras 850 pessoas e uma perna haviam confiado na qualidade do seu serviço a ponto de não precisarem de ouvir o relatório, por muito verborreico que ele fosse.
Seguro de ter feito o melhor possível pela humanidade e arredores decidiu pos deambular um pouco pelas ruas daquela cidade verde e castanha, dourada e preta. Gostou do que viu e tirou apontamentos para voltar mais tarde. Comeu regularmente em restaurantes italianos por a gastronomia local padecer de falta de imaginação e paladar, a ponto de os próprios locais a ignorarem e frequentarem aqueles italianos com maior frequência que a que vão à missa.
Dom Cócó, como apreciador dos movimentos populares ainda que com moderação, decidiu um desses dias em Praga ir à danceteria mais badalada a nascente. Era bizarra a casinhota que albergava aquela barbárie de gente. Por quatro pisos se dividiam pequenos salões de baile e bares variados. A musica era na sua maioria de compositores menores mas que pareciam estar a contento da turba alucinada. O aparato era grande nalgumas salas ao ponto de haver muita gente de luvas brancas calçadas, mesmo não havendo luz que se visse e estando elas na sua larga maioria mais despidas que bem-vestidas para a ocasião. Entreteve-se pois Dom Cócó em observação de cuidado antropológico que a multidão lhe proporcionava e teve ainda tempo para beber uns copanázios da beberragem local.
(Desta vez as luvas eram verdade, não havia como inventar!)
E assim foi, Dom Cócó retomou as peripécias em viagem, desta vez explorando as tecnologias de topo, orgulho deste novo século. Mandou vir o bilhete pelo correio de alta velocidade que são uns póneizinhos muito, muito, muito pequeninos que correm dentro duns tubinhos e vão a casa de toda a gente. Toda a gente importante entenda-se. Assim como o Dom Cócó. Sentiu-se ele nada mais do que desconsolado por agora ter de levar o número do seu bilhete escrito numa folha branca e a probabilidade de se perder nos seus papéis ser maior ao invés de ter um cartão próprio.
Pelo menos a companhia que voava, companhia da sua nova e moderna cidade, era das que servia comida, obviamente por reconhecer o quanto isso contribuia para o regozijo dos tripulantes. Dom cócó adormeceu um pouco para poupar os seus musculos faciais para as expressões artificiais que teria de fazer nos próximos dias. Como se quer a um diplomata de craveira, nos dias anteriores tinha escrito os discursos que iria fazer, preparado as reuniões que iria ter e treinado ao espelho os olhares e as caretas variadas a usar nos intervalos sociais do seu emprego.
Muito gostou de Praga, Dom Cócó, lugar onde a temperatura era tão baixa como o preço da cerveja (expressão que anotou para usar nas suas memórias).
Pensar-se-ia: Mas que diabo faria Dom Cócó em tão vil cidade? Pois em virtude da sua posição importante, deslocou-se ele em trabalho para ajudar numas conferências que outros senhores importantes fazem regularmente.
Fez o que lhe competiu e ainda recebu elogios. Ainda foi convidado para discursar no final da conferência apresentando os resultados da sua humilde contribuição. O que é certo é que estavam quase 8 pessoas na audiência ouvindo atentamente. “Quase”, porque uma era perneta. Dom Cócó não conseguiu esconder o orgulho de perceber que as outras 850 pessoas e uma perna haviam confiado na qualidade do seu serviço a ponto de não precisarem de ouvir o relatório, por muito verborreico que ele fosse.
Seguro de ter feito o melhor possível pela humanidade e arredores decidiu pos deambular um pouco pelas ruas daquela cidade verde e castanha, dourada e preta. Gostou do que viu e tirou apontamentos para voltar mais tarde. Comeu regularmente em restaurantes italianos por a gastronomia local padecer de falta de imaginação e paladar, a ponto de os próprios locais a ignorarem e frequentarem aqueles italianos com maior frequência que a que vão à missa.
Dom Cócó, como apreciador dos movimentos populares ainda que com moderação, decidiu um desses dias em Praga ir à danceteria mais badalada a nascente. Era bizarra a casinhota que albergava aquela barbárie de gente. Por quatro pisos se dividiam pequenos salões de baile e bares variados. A musica era na sua maioria de compositores menores mas que pareciam estar a contento da turba alucinada. O aparato era grande nalgumas salas ao ponto de haver muita gente de luvas brancas calçadas, mesmo não havendo luz que se visse e estando elas na sua larga maioria mais despidas que bem-vestidas para a ocasião. Entreteve-se pois Dom Cócó em observação de cuidado antropológico que a multidão lhe proporcionava e teve ainda tempo para beber uns copanázios da beberragem local.
(Desta vez as luvas eram verdade, não havia como inventar!)
quinta-feira, outubro 07, 2004
Saludos amigos
Terminou o primeiro tomo das minhas aventuras.
Consegui ao fim de 9 dias encontrar uma boa pechincha. O aluguer mensal é bastante inferior às congéneres oferecendo as comodidades de uma vida moderna belga como maquina de lavar e secar, TV Cabo, aquecimento central, cozinha equipada e até um companheiro de casa decente.
A juntar a isto a proximidade com a Garcia (ler post Liberdade) calcula-se proveitosa para o meu saldo de colesterol.
Deixo para trás quase uma dezena de Pousada de Juventude (http://www.vjh.be/).
Agradeço às personagens com quem partilhei quarto pelas memórias que me deixam.
James, meio neo-zelandês meio maori, a fazer a viagem grande antes de ser aceite de volta na sua tribo.
Matt, cinquentão texano que comprava garrafas de cerveja, as punha em água morna para tirar os rótulos e posteriormente catalogar, com as respectivas apreciações de gosto.
Rapaz de chibo ruivo, que quando eu saia de manhã ele ficava a dormir e quando entrava à noite já dormia. Achei que para defunto até não estava a cheirar muito mal.
Ignatzio "Nacho", argentino grunho que abria a boca para dizer disparates e que por isso mesmo era óptimo para ter por perto.
Adela e Soledad, malaguenhas indeféctiveis que no meio da pista rock gritam para que passem "Salsa, Salsa". Estas estao cá por um ano agora já com casa própria onde só passam musica daquela.
Enrique "QuiQue", o beto da extremadura que me ajuda a aturar estas duas miudas.
Estes últimos três têm sido os companheiros das saídas nocturnas, muitas das vezes passadas no bar da Pousada até ás tantas a beber cerveja barata e a ver o "Jackass, the movie" over and over.
Entendemo-nos num espanhol escorreito que eu na maior parte invento e quanto mais depressa o falo, melhor o entendem. A certa altura, tentei explicar-lhes o que era um pastel de tentúgal e ficaram muito divertidos com a minha tradução de "folhado".
Consegui ao fim de 9 dias encontrar uma boa pechincha. O aluguer mensal é bastante inferior às congéneres oferecendo as comodidades de uma vida moderna belga como maquina de lavar e secar, TV Cabo, aquecimento central, cozinha equipada e até um companheiro de casa decente.
A juntar a isto a proximidade com a Garcia (ler post Liberdade) calcula-se proveitosa para o meu saldo de colesterol.
Deixo para trás quase uma dezena de Pousada de Juventude (http://www.vjh.be/).
Agradeço às personagens com quem partilhei quarto pelas memórias que me deixam.
James, meio neo-zelandês meio maori, a fazer a viagem grande antes de ser aceite de volta na sua tribo.
Matt, cinquentão texano que comprava garrafas de cerveja, as punha em água morna para tirar os rótulos e posteriormente catalogar, com as respectivas apreciações de gosto.
Rapaz de chibo ruivo, que quando eu saia de manhã ele ficava a dormir e quando entrava à noite já dormia. Achei que para defunto até não estava a cheirar muito mal.
Ignatzio "Nacho", argentino grunho que abria a boca para dizer disparates e que por isso mesmo era óptimo para ter por perto.
Adela e Soledad, malaguenhas indeféctiveis que no meio da pista rock gritam para que passem "Salsa, Salsa". Estas estao cá por um ano agora já com casa própria onde só passam musica daquela.
Enrique "QuiQue", o beto da extremadura que me ajuda a aturar estas duas miudas.
Estes últimos três têm sido os companheiros das saídas nocturnas, muitas das vezes passadas no bar da Pousada até ás tantas a beber cerveja barata e a ver o "Jackass, the movie" over and over.
Entendemo-nos num espanhol escorreito que eu na maior parte invento e quanto mais depressa o falo, melhor o entendem. A certa altura, tentei explicar-lhes o que era um pastel de tentúgal e ficaram muito divertidos com a minha tradução de "folhado".
terça-feira, outubro 05, 2004
Lisboa, não sejas francesa...
(Para o Vasco)
Depois de sair do escritório e com uma pressão bombástica nos intestino decidi fazer-me à estrada qual cowboy do asphalto mas a pé. Sem carro, bicicleta, mula ou pileca. A pé!
Levei um mapa da internet dobrado em quatro no bolso. Só o consultava se precisasse com a vergonha e receio que alguém se apercebesse que era estrangeiro. Nele tinha posto as indicações da casa para ver se me agradava alugar.
Depois de 500 metros a andar na direcção errada decidi voltar por se estar a fazer escuro e o estômago roncar e o intestino se aguentar. Já no caminho certo pensava naquilo que o meu pai chamava "um passeio à Senhora da Asneira".
Afinal a casa não era má de todo. Resta saber se eu agradei ao outro locatário com quem tenho de partilhar a casa. Não percebo porquê mas em Brochelas é assim: se a casa é má qualquer pessoa serve, se é boa já se pode escolher. Tendo em conta que a escolha é feita com base em critérios subjectivos e imediatos, ja se vê a justiça da coisa.
De regresso ao albergue pensava como estava quente aquela noite e de como isso costumava anteceder dias de chuva. Nisto, fixei um toldo de snack-bar com publicidade a "Silveira cafés" olhei para dentro e havia uns senhores ao balcão a falar português e a beber umas minis.
Esfreguei as mãos pensando "É português, mesmo que seja uma merda há-de ser barato".
Dentro, escrito numa ardósia mal segura na parede a giz azul e cor-de-rosa,
"Há Francesinha".
É pró menino e prá menina - sorria eu enquanto prendia o meu olhar na decoração floral-fantasia da ardósia.
E cá para o menino houve francesinha, mini de super-bock, baba de camelo e café como o nosso. Ainda vi os anúncios na RTP e pensei que até eramos evoluidos nisto da imagem. Se soubessem o esterco que anda cá por fora...
Por me ver tão repleto, o empregado perguntou-me se era do norte por estar a comer uma francesinha. Expliquei-lhe que era de Lisboa e respondi a todas as perguntas da praxe: Que era estudante, que estava so por um ano, que tinha dado com aquilo por acaso, não, que ninguem me indicou aquele sítio e que não conhecia nenhum Sr. Albano de Setúbal.
Sou de Lisboa, gosto de francesinha desde que seja comida no porto. Não sei, tem sempre um sabor mais cervejeiro e acolhedor. Traz-me à memória ricos dias.
Depois de sair do escritório e com uma pressão bombástica nos intestino decidi fazer-me à estrada qual cowboy do asphalto mas a pé. Sem carro, bicicleta, mula ou pileca. A pé!
Levei um mapa da internet dobrado em quatro no bolso. Só o consultava se precisasse com a vergonha e receio que alguém se apercebesse que era estrangeiro. Nele tinha posto as indicações da casa para ver se me agradava alugar.
Depois de 500 metros a andar na direcção errada decidi voltar por se estar a fazer escuro e o estômago roncar e o intestino se aguentar. Já no caminho certo pensava naquilo que o meu pai chamava "um passeio à Senhora da Asneira".
Afinal a casa não era má de todo. Resta saber se eu agradei ao outro locatário com quem tenho de partilhar a casa. Não percebo porquê mas em Brochelas é assim: se a casa é má qualquer pessoa serve, se é boa já se pode escolher. Tendo em conta que a escolha é feita com base em critérios subjectivos e imediatos, ja se vê a justiça da coisa.
De regresso ao albergue pensava como estava quente aquela noite e de como isso costumava anteceder dias de chuva. Nisto, fixei um toldo de snack-bar com publicidade a "Silveira cafés" olhei para dentro e havia uns senhores ao balcão a falar português e a beber umas minis.
Esfreguei as mãos pensando "É português, mesmo que seja uma merda há-de ser barato".
Dentro, escrito numa ardósia mal segura na parede a giz azul e cor-de-rosa,
"Há Francesinha".
É pró menino e prá menina - sorria eu enquanto prendia o meu olhar na decoração floral-fantasia da ardósia.
E cá para o menino houve francesinha, mini de super-bock, baba de camelo e café como o nosso. Ainda vi os anúncios na RTP e pensei que até eramos evoluidos nisto da imagem. Se soubessem o esterco que anda cá por fora...
Por me ver tão repleto, o empregado perguntou-me se era do norte por estar a comer uma francesinha. Expliquei-lhe que era de Lisboa e respondi a todas as perguntas da praxe: Que era estudante, que estava so por um ano, que tinha dado com aquilo por acaso, não, que ninguem me indicou aquele sítio e que não conhecia nenhum Sr. Albano de Setúbal.
Sou de Lisboa, gosto de francesinha desde que seja comida no porto. Não sei, tem sempre um sabor mais cervejeiro e acolhedor. Traz-me à memória ricos dias.
A arte de bem asnar em toda a cela
Cito e comento a entrevista ao Sr. Manuel Braga da Cruz ao Público de 2004-10-04, reempossante reitor da Universidade Católica Portuguesa:
http://jornal.publico.pt/2004/10/04/Sociedade/S01.html
“O que me parece que é largamente favorecedor do insucesso é a gratuitidade do ensino superior público, que fomenta a irresponsabilidade, permite que haja estudantes sem aproveitamento.”
Falso
O ensino superior já deixou de ser gratuito infelizmente.
Resolve-se esta situação tornando-o ainda mais caro, logo, incomportável para alguns. Fica reservado o ensino a quem o pode pagar. Torna-se um bem de luxo.
Em alternativa, pode-se trabalhar e pagar o ensino, mas o aproveitamento também decresce o que não me parece resolver o seu problema.
A gratuitidade do ensino prende-se com a sua acessibilidade e não com a prossecução dos estudos.
“Mas são irrisórias [propinas]. Sei que é difícil para uma minoria de famílias, mas para a grande maioria o que pagam é irrelevante e isso é fomentador não apenas de irresponsabilidade social, como de insucesso.”
Falso
As propinas no ensino superior público ascendem aos 850€ anuais, valor máximo permitido pelo estado. No privado são mais elevadas ainda e a garantia de qualidade não é proporcional.
Claro que são irrisórias para quem comete o erro (pouco académico) de introduzir um viés urbano e elitista nas suas ideias.
A irrisoriedade, irrelevância e irresponsabilidade referidas pertencem apenas a quem tem a estabilidade financeira para as suportar. Isto é um tiro no pé.
“Creio que há razão quando se diz que há crescente cultura de facilitismo no ensino e diminuição de exigência no ensino, que estudar e aprender é algo de que se deve tirar prazer e que não há algo de ascético neste esforço de fazer vida escolar e académica.”
Verdadeiro
Ressalto o facto de ser apenas uma confirmação da constatação de outrem.
“Os profissionais são importantíssimos, mas temos de impedir que haja uma visão corporativa. Assistimos ao decréscimo do número de alunos e a um aumento dos professores. Ora, impõe-se uma racionalização.”
Falso
Assitimos se calhar a um aumento do rácio professor/aluno mas não há decréscimo do número de alunos.
Esta observação resulta do normal devir da demografia. A população envelhece e os jovens são menos que os adultos.
Pode-se no entanto contornar o problema considerando que em portugal o Professor Universitário é um invetigador e que o aumento de massa crítica pode ser utilizado no próprio auto-financiamento das Universidades pela prestação de serviços à Sociedade Civil. Isto significa que a universidade se tornaria útil às Associações Profissionais sem ser por isso engolida pela máquina corporativista.
Auto-financiamento da Univesidade. Ensino tendencialmente gratuito.
Isto sim, é racionalização!
“Há necessidade de incentivar a exigência no ensino superior. Temos que tomar medidas restritivas da permanência na universidade de estudantes sem aproveitamento.”
Verdadeiro
Um pouco dramático mas parece-me lógico. A ocupação de um lugar sem resultados tangíveis face às contingências individuais não é produtiva. Não deve permanecer quem pode pagar mas quem demonstra resultados.
Fora com quem não serve para estudar. PIM!
“Hoje, em todas as cidades universitárias de Portugal, existe uma autêntica indústria da noite, que exerce uma fortíssima pressão sobre os estudantes universitários e é responsável por um clima de menor investimento no estudo e na aplicação em geral.”
Falso
Ao estudante é dado o livre arbítrio de escolher o que deve fazer. Se ele resolve preterir os estudos pela sociabilização em excesso ele, como jovem adulto, lidará com as consequências. Não esqueçamos que falamos de pessoas com idade superior a 18 anos.
Com tanta pressão, até me espanta que não andem por aí estudantes a bufar vapor como umas panelinhas. Estariam a destilar o álcool, dir-se-ia...
“Famílias e instituições não são capazes de controlar a enorme pressão que é exercida sobre os jovens e que obviamente não favorece nem contribui para o sucesso escolar.”
Verdadeiro
Colhem apenas os frutos de uma educação que se demitiu do ensino da responsabilidade e de uma grelha de valores adaptada à realidade. Não compete no entanto à família controlar qualquer pressão que seja. Repito: o jovem adulto já tem idade para decidir.
Este tipo de raciocínio leva naturalmente ao enclausuramento dos estudantes em celas monásticas e o uso de palas nos olhos nas zonas comuns.
“É muito importante canalizar para a qualificação, premiar a qualidade e distinguir o que é bom.”
20 valores para a LaPalissada número 1.
“Pedíamos que o Estado pagasse as propinas aos alunos mais classificados. É pena o Estado não ter concretizado essa proposta, que seria uma medida de qualificação do ensino superior.”
Falso
Se o estado pagasse as propinas dos alunos mais classificados julgo que o faria nas instituições de Ensino Superior Publico que lhe dão verdadeiro retorno.
No entanto, se foi o próprio estado a encetar a ideia peregrina do auto-financiamento e da instituição de propinas não será isto uma viragem de 180º na sua política?
Sempre me ensinaram a encarar o estado como um Mr. Scrooge e os privados como o Pai Natal.
Apresentem-se alternativas e não retrocessos.
“Por exemplo, temos algumas faculdades onde a actividade com formação ao longo da vida é quase mais importante que a graduada. Há que fomentar uma aproximação entre as instituições de ensino superior e a sociedade envolvente.”
17 Valores para a LaPalissada número 2.
Esta já perde por não ter efeito surpresa e por não ter qualquer referência à Universidade da 3ª idade onde se cabula deixando cair a placa no exame.
“Há muitas formações que conduzem à criação de competências profissionais que não são compagináveis com o modelo "três mais dois". A discussão tem que ser feita articulando uma reflexão sobre perfis profissionais e aquisição de competências e tem de ser feito por areas.”
Verdadeiro
Aposto que também foi daquelas de “ouvi dizer”.
Estamos a ficar com falta de serviços essenciais por falta de formação especializada nos quadros médios e inferiores. Não significa que sejam mal-pagos mas se calhar são ainda mal-vistos no país-do-dia-de-ontem.
“...na generalidade, as formações devem ter um mínimo de quatro anos. A grande competição que temos de travar é com o sistema de ensino universitário norte-americano, que se revela ser o mais atractivo.”
Falso
A competição a travar com os EUA é no campo da “fuga de cérebros”. Combate-se pelo incentivo financeiro à investigação.
Formações de quatro anos já existem. Nós chamamos-lhe “Ensino Politécnico” e é se calhar uma vertente da educação que merece mais acompanhamento e uma maior aposta pelos quadros médios que produz.
Não se pense, porém, que há paridade entre o ensino Universitário Estado-Unidense e o Europeu. O seu ensino é muito mais especializado e como em tudo perde se calhar pela falta de abrangência na visão do mundo.
Conclui-se pois que Sr. Manuel Braga da Cruz satisfaz menos.
Com reitores assim, não admira que o Ensino Universitário em portugal esteja na mó de baixo. A culpa é também dos estudantes. Enquanto as coisas não lhes doerem no pelo, não se queixam.
http://jornal.publico.pt/2004/10/04/Sociedade/S01.html
“O que me parece que é largamente favorecedor do insucesso é a gratuitidade do ensino superior público, que fomenta a irresponsabilidade, permite que haja estudantes sem aproveitamento.”
Falso
O ensino superior já deixou de ser gratuito infelizmente.
Resolve-se esta situação tornando-o ainda mais caro, logo, incomportável para alguns. Fica reservado o ensino a quem o pode pagar. Torna-se um bem de luxo.
Em alternativa, pode-se trabalhar e pagar o ensino, mas o aproveitamento também decresce o que não me parece resolver o seu problema.
A gratuitidade do ensino prende-se com a sua acessibilidade e não com a prossecução dos estudos.
“Mas são irrisórias [propinas]. Sei que é difícil para uma minoria de famílias, mas para a grande maioria o que pagam é irrelevante e isso é fomentador não apenas de irresponsabilidade social, como de insucesso.”
Falso
As propinas no ensino superior público ascendem aos 850€ anuais, valor máximo permitido pelo estado. No privado são mais elevadas ainda e a garantia de qualidade não é proporcional.
Claro que são irrisórias para quem comete o erro (pouco académico) de introduzir um viés urbano e elitista nas suas ideias.
A irrisoriedade, irrelevância e irresponsabilidade referidas pertencem apenas a quem tem a estabilidade financeira para as suportar. Isto é um tiro no pé.
“Creio que há razão quando se diz que há crescente cultura de facilitismo no ensino e diminuição de exigência no ensino, que estudar e aprender é algo de que se deve tirar prazer e que não há algo de ascético neste esforço de fazer vida escolar e académica.”
Verdadeiro
Ressalto o facto de ser apenas uma confirmação da constatação de outrem.
“Os profissionais são importantíssimos, mas temos de impedir que haja uma visão corporativa. Assistimos ao decréscimo do número de alunos e a um aumento dos professores. Ora, impõe-se uma racionalização.”
Falso
Assitimos se calhar a um aumento do rácio professor/aluno mas não há decréscimo do número de alunos.
Esta observação resulta do normal devir da demografia. A população envelhece e os jovens são menos que os adultos.
Pode-se no entanto contornar o problema considerando que em portugal o Professor Universitário é um invetigador e que o aumento de massa crítica pode ser utilizado no próprio auto-financiamento das Universidades pela prestação de serviços à Sociedade Civil. Isto significa que a universidade se tornaria útil às Associações Profissionais sem ser por isso engolida pela máquina corporativista.
Auto-financiamento da Univesidade. Ensino tendencialmente gratuito.
Isto sim, é racionalização!
“Há necessidade de incentivar a exigência no ensino superior. Temos que tomar medidas restritivas da permanência na universidade de estudantes sem aproveitamento.”
Verdadeiro
Um pouco dramático mas parece-me lógico. A ocupação de um lugar sem resultados tangíveis face às contingências individuais não é produtiva. Não deve permanecer quem pode pagar mas quem demonstra resultados.
Fora com quem não serve para estudar. PIM!
“Hoje, em todas as cidades universitárias de Portugal, existe uma autêntica indústria da noite, que exerce uma fortíssima pressão sobre os estudantes universitários e é responsável por um clima de menor investimento no estudo e na aplicação em geral.”
Falso
Ao estudante é dado o livre arbítrio de escolher o que deve fazer. Se ele resolve preterir os estudos pela sociabilização em excesso ele, como jovem adulto, lidará com as consequências. Não esqueçamos que falamos de pessoas com idade superior a 18 anos.
Com tanta pressão, até me espanta que não andem por aí estudantes a bufar vapor como umas panelinhas. Estariam a destilar o álcool, dir-se-ia...
“Famílias e instituições não são capazes de controlar a enorme pressão que é exercida sobre os jovens e que obviamente não favorece nem contribui para o sucesso escolar.”
Verdadeiro
Colhem apenas os frutos de uma educação que se demitiu do ensino da responsabilidade e de uma grelha de valores adaptada à realidade. Não compete no entanto à família controlar qualquer pressão que seja. Repito: o jovem adulto já tem idade para decidir.
Este tipo de raciocínio leva naturalmente ao enclausuramento dos estudantes em celas monásticas e o uso de palas nos olhos nas zonas comuns.
“É muito importante canalizar para a qualificação, premiar a qualidade e distinguir o que é bom.”
20 valores para a LaPalissada número 1.
“Pedíamos que o Estado pagasse as propinas aos alunos mais classificados. É pena o Estado não ter concretizado essa proposta, que seria uma medida de qualificação do ensino superior.”
Falso
Se o estado pagasse as propinas dos alunos mais classificados julgo que o faria nas instituições de Ensino Superior Publico que lhe dão verdadeiro retorno.
No entanto, se foi o próprio estado a encetar a ideia peregrina do auto-financiamento e da instituição de propinas não será isto uma viragem de 180º na sua política?
Sempre me ensinaram a encarar o estado como um Mr. Scrooge e os privados como o Pai Natal.
Apresentem-se alternativas e não retrocessos.
“Por exemplo, temos algumas faculdades onde a actividade com formação ao longo da vida é quase mais importante que a graduada. Há que fomentar uma aproximação entre as instituições de ensino superior e a sociedade envolvente.”
17 Valores para a LaPalissada número 2.
Esta já perde por não ter efeito surpresa e por não ter qualquer referência à Universidade da 3ª idade onde se cabula deixando cair a placa no exame.
“Há muitas formações que conduzem à criação de competências profissionais que não são compagináveis com o modelo "três mais dois". A discussão tem que ser feita articulando uma reflexão sobre perfis profissionais e aquisição de competências e tem de ser feito por areas.”
Verdadeiro
Aposto que também foi daquelas de “ouvi dizer”.
Estamos a ficar com falta de serviços essenciais por falta de formação especializada nos quadros médios e inferiores. Não significa que sejam mal-pagos mas se calhar são ainda mal-vistos no país-do-dia-de-ontem.
“...na generalidade, as formações devem ter um mínimo de quatro anos. A grande competição que temos de travar é com o sistema de ensino universitário norte-americano, que se revela ser o mais atractivo.”
Falso
A competição a travar com os EUA é no campo da “fuga de cérebros”. Combate-se pelo incentivo financeiro à investigação.
Formações de quatro anos já existem. Nós chamamos-lhe “Ensino Politécnico” e é se calhar uma vertente da educação que merece mais acompanhamento e uma maior aposta pelos quadros médios que produz.
Não se pense, porém, que há paridade entre o ensino Universitário Estado-Unidense e o Europeu. O seu ensino é muito mais especializado e como em tudo perde se calhar pela falta de abrangência na visão do mundo.
Conclui-se pois que Sr. Manuel Braga da Cruz satisfaz menos.
Com reitores assim, não admira que o Ensino Universitário em portugal esteja na mó de baixo. A culpa é também dos estudantes. Enquanto as coisas não lhes doerem no pelo, não se queixam.
sábado, outubro 02, 2004
Os humanóides associados
Optimista penso sempre que amanhã é que é. Amanhã é que vou encontrar A Casa.
Pequena, moderna, cosmopolita, barata, perto do trabalho, numa zona central, mobilada e totalmente equipada, são as qualidades do arquétipo daquilo que é a minha casa.
Não é uma casa portuguesa concerteza mas também não é uma casa IKEA por natureza.
Há-de ser um híbrido e vou (cada vez mais estou convencido que vou) ter que a partilhar com outro humanóide. "Les Humanoïdes Associés" para fazer e acontecer nesta terra-motor da 9ª Arte europeia.
(http://www.humano.com/)
Hoje cansei-me de calcorrear as ruas à procura dos papelinhos laranja "A LOUER". Todos lia e todos renegava. Preço, tamanho, condições, sempre uma nuvem agoirenta que toldava a sombra do meu arquétipo. Maledisse o demiurgo e os confins da mente e mandei todos para o diabo que os carregasse.
Pequena, moderna, cosmopolita, barata, perto do trabalho, numa zona central, mobilada e totalmente equipada, são as qualidades do arquétipo daquilo que é a minha casa.
Não é uma casa portuguesa concerteza mas também não é uma casa IKEA por natureza.
Há-de ser um híbrido e vou (cada vez mais estou convencido que vou) ter que a partilhar com outro humanóide. "Les Humanoïdes Associés" para fazer e acontecer nesta terra-motor da 9ª Arte europeia.
(http://www.humano.com/)
Hoje cansei-me de calcorrear as ruas à procura dos papelinhos laranja "A LOUER". Todos lia e todos renegava. Preço, tamanho, condições, sempre uma nuvem agoirenta que toldava a sombra do meu arquétipo. Maledisse o demiurgo e os confins da mente e mandei todos para o diabo que os carregasse.
Com as gambias já em consumo láctico parei na Garcia. Alarvei-me numa torrada com o preceito de deixar as fatias do meio, sem côdea, para o fim. Foi até escorrer manteiga pelo queixo abaixo. No fim calafetei bem tudo com um galãozinho morno. Ainda levei, por pirraça, um pão com chouriço para mordiscar na viagem de regresso.
A Garcia por dentro é bem catita. Tem uma fachada de casa alentejana de friso azul numa parede, uma fonte em pedra na outra. Tem ninhos de andorinha verdadeiros no beiral e umas andorinhas de loiça. Só se fala português e toda a gente pede bifanas.
No meio daquela tamanha idiossincrasia, por momentos, esqueci a puta da casa e aturdi-me na leitura da moderna terapêutica da rinite alérgica.
Moral da história: Como no mito de Sísifo, é preciso imaginá-lo feliz assim.
sexta-feira, outubro 01, 2004
Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
Amanhã vou tentar comprar o expresso na Orfeu:
http://www.luso.be/pt/pub/details.asp?num=38
Depois vou comer um pastel de nata a transbordar de canela na Garcia:
http://www.luso.be/pt/pub/details.asp?num=21
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