terça-feira, outubro 26, 2004

Um Cócó em Praga

(mais um evento entre a ficção e o desenho animado)

E assim foi, Dom Cócó retomou as peripécias em viagem, desta vez explorando as tecnologias de topo, orgulho deste novo século. Mandou vir o bilhete pelo correio de alta velocidade que são uns póneizinhos muito, muito, muito pequeninos que correm dentro duns tubinhos e vão a casa de toda a gente. Toda a gente importante entenda-se. Assim como o Dom Cócó. Sentiu-se ele nada mais do que desconsolado por agora ter de levar o número do seu bilhete escrito numa folha branca e a probabilidade de se perder nos seus papéis ser maior ao invés de ter um cartão próprio.
Pelo menos a companhia que voava, companhia da sua nova e moderna cidade, era das que servia comida, obviamente por reconhecer o quanto isso contribuia para o regozijo dos tripulantes. Dom cócó adormeceu um pouco para poupar os seus musculos faciais para as expressões artificiais que teria de fazer nos próximos dias. Como se quer a um diplomata de craveira, nos dias anteriores tinha escrito os discursos que iria fazer, preparado as reuniões que iria ter e treinado ao espelho os olhares e as caretas variadas a usar nos intervalos sociais do seu emprego.

Muito gostou de Praga, Dom Cócó, lugar onde a temperatura era tão baixa como o preço da cerveja (expressão que anotou para usar nas suas memórias).
Pensar-se-ia: Mas que diabo faria Dom Cócó em tão vil cidade? Pois em virtude da sua posição importante, deslocou-se ele em trabalho para ajudar numas conferências que outros senhores importantes fazem regularmente.
Fez o que lhe competiu e ainda recebu elogios. Ainda foi convidado para discursar no final da conferência apresentando os resultados da sua humilde contribuição. O que é certo é que estavam quase 8 pessoas na audiência ouvindo atentamente. “Quase”, porque uma era perneta. Dom Cócó não conseguiu esconder o orgulho de perceber que as outras 850 pessoas e uma perna haviam confiado na qualidade do seu serviço a ponto de não precisarem de ouvir o relatório, por muito verborreico que ele fosse.

Seguro de ter feito o melhor possível pela humanidade e arredores decidiu pos deambular um pouco pelas ruas daquela cidade verde e castanha, dourada e preta. Gostou do que viu e tirou apontamentos para voltar mais tarde. Comeu regularmente em restaurantes italianos por a gastronomia local padecer de falta de imaginação e paladar, a ponto de os próprios locais a ignorarem e frequentarem aqueles italianos com maior frequência que a que vão à missa.

Dom Cócó, como apreciador dos movimentos populares ainda que com moderação, decidiu um desses dias em Praga ir à danceteria mais badalada a nascente. Era bizarra a casinhota que albergava aquela barbárie de gente. Por quatro pisos se dividiam pequenos salões de baile e bares variados. A musica era na sua maioria de compositores menores mas que pareciam estar a contento da turba alucinada. O aparato era grande nalgumas salas ao ponto de haver muita gente de luvas brancas calçadas, mesmo não havendo luz que se visse e estando elas na sua larga maioria mais despidas que bem-vestidas para a ocasião. Entreteve-se pois Dom Cócó em observação de cuidado antropológico que a multidão lhe proporcionava e teve ainda tempo para beber uns copanázios da beberragem local.

(Desta vez as luvas eram verdade, não havia como inventar!)

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