terça-feira, outubro 05, 2004

Lisboa, não sejas francesa...

(Para o Vasco)

Depois de sair do escritório e com uma pressão bombástica nos intestino decidi fazer-me à estrada qual cowboy do asphalto mas a pé. Sem carro, bicicleta, mula ou pileca. A pé!

Levei um mapa da internet dobrado em quatro no bolso. Só o consultava se precisasse com a vergonha e receio que alguém se apercebesse que era estrangeiro. Nele tinha posto as indicações da casa para ver se me agradava alugar.

Depois de 500 metros a andar na direcção errada decidi voltar por se estar a fazer escuro e o estômago roncar e o intestino se aguentar. Já no caminho certo pensava naquilo que o meu pai chamava "um passeio à Senhora da Asneira".
Afinal a casa não era má de todo. Resta saber se eu agradei ao outro locatário com quem tenho de partilhar a casa. Não percebo porquê mas em Brochelas é assim: se a casa é má qualquer pessoa serve, se é boa já se pode escolher. Tendo em conta que a escolha é feita com base em critérios subjectivos e imediatos, ja se vê a justiça da coisa.

De regresso ao albergue pensava como estava quente aquela noite e de como isso costumava anteceder dias de chuva. Nisto, fixei um toldo de snack-bar com publicidade a "Silveira cafés" olhei para dentro e havia uns senhores ao balcão a falar português e a beber umas minis.
Esfreguei as mãos pensando "É português, mesmo que seja uma merda há-de ser barato".
Dentro, escrito numa ardósia mal segura na parede a giz azul e cor-de-rosa,
"Há Francesinha".
É pró menino e prá menina - sorria eu enquanto prendia o meu olhar na decoração floral-fantasia da ardósia.

E cá para o menino houve francesinha, mini de super-bock, baba de camelo e café como o nosso. Ainda vi os anúncios na RTP e pensei que até eramos evoluidos nisto da imagem. Se soubessem o esterco que anda cá por fora...
Por me ver tão repleto, o empregado perguntou-me se era do norte por estar a comer uma francesinha. Expliquei-lhe que era de Lisboa e respondi a todas as perguntas da praxe: Que era estudante, que estava so por um ano, que tinha dado com aquilo por acaso, não, que ninguem me indicou aquele sítio e que não conhecia nenhum Sr. Albano de Setúbal.

Sou de Lisboa, gosto de francesinha desde que seja comida no porto. Não sei, tem sempre um sabor mais cervejeiro e acolhedor. Traz-me à memória ricos dias.

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